Geralmente damos aqui no blog dicas importante de como desenvolver produtos cada vez melhores. Mas hoje, o papo vai ser como você pode ser uma versão melhor de si mesmo e entender os comportamentos que tanto nós, como os usuários dos nossos produtos tem ao interagirem com eles.
Este texto é baseado em uma palestra do Nir Eyal, autor do livro Hooked – que já indicamos como um dos livros essenciais para Product Managers -, que também acabou de lançar o seu novo livro: Indistractable: How to Control Your Attention and Choose Your Life.
Neste livro, Nir explica os desafios de desenvolver Produtos que sejam formadores de hábitos e assim gerar engajamento nos Produtos que desenvolvemos. A ideia dele é democratizar as técnicas utilizadas pelo Facebook, Instagram, Whatsapp, Slack e muitas outras empresas de tecnologia, que se apropriam de técnicas interessantes de manter seus usuários ativos em suas plataformas.
Embora os exemplos em cima sejam de empresas de social media, este livro não é apenas focado neste segmento de Produto, mas discorre também sobre como desenvolvemos Produtos diversos, como um aplicativo de exercícios físicos para pessoas que têm o hábito de se exercitarem apenas nas academias; Produtos de educação como o Kahoot (um dos maiores Produtos com foco em educação) – que usou um hook model para criar o hábito de aprender nas crianças; o New York Times, que criam gatilhos para manter seus leitores acessando o app todos os dias em busca de notícias, entre outros exemplos.
Mas existe um outro lado da moeda. Algumas vezes, o Produto é tão bem construído, que acabamos usando-o demais. Um exemplo disso é estarmos sempre distraídos em momentos importantes como reuniões com a família, pelo simples hábito de ficar olhando as notificações no celular o tempo inteiro.
Isso nos faz pensar sobre como é difícil mantermo-nos concentrados – que sendo bem franco, pode ser a habilidade do século. Hoje temos tantas distrações que não conseguimos focar em aspectos importantes da nossa vida como, por exemplo, fazer exercícios, comer de maneira saudável, estar com a família (de verdade, não usando o smartphone o tempo todo), terminar uma tarefa do trabalho rapidamente, sem pausas. Não estamos mantendo o foco. Este é o problema que está nos impedindo de levar a vida que desejamos.
O problema da distração não é tão atual quanto parece. Platão falou sobre isso há 2500 anos. E existe até uma palavra para esse comportamento: Akrasia, ou seja “A tendência de fazer coisas que vão contra o nosso melhor julgamento”.
Para entender melhor a situação, vamos pensar no oposto à distração. Seria o foco? Talvez não seja bem isso. Se olharmos para a origem da palavra distração, o oposto desta palavra não é foco e sim “tração”. As duas palavras (tração e distração) vêm do latim traho, que significa puxar. E ambas as palavras terminam com as mesmas 5 letras, ou seja “ação”. Tração é a ação de te puxar para o que você deseja fazer.
O oposto de “tração” é “distração”. Ou seja, a ação de mover você para longe do que você deseja fazer. Qualquer coisa que não está alinhada com os seus valores ou ser a pessoa que você quer ser.
Saber disso é importante por duas razões:
#1: qualquer coisa pode ser uma distração. Quem nunca passou por uma situação onde chegou no trabalho e pensou nas tarefas do dia, fez um plano para segui-las sem pausas ou procrastinação e, de repente, resolveu abrir os e-mails antes ou dar uma olhada nas mensagens do Slack? E sempre temos uma desculpa para isso como: “Eu preciso checar meus e-mails diariamente”, “Tenho que saber o que a equipe está falando no Slack” etc. Temos que perceber que, nestes momentos, estamos deixando a distração dominar – e deixando para segundo plano o que é, de fato, urgente. Essa é uma das mais perigosas formas de distração, pois essas tarefas aleatórias passam a impressão de que são produtivas, mas elas não estão dentro do planejamento que você fez para o dia, algumas vezes.
#2: qualquer coisa pode se tornar uma tração. Exemplo: todos nós já ouvimos falar que a tecnologia está viciando a sociedade, que está sequestrando os nossos cérebros e manipulando todo o mundo. Isso é tolice se pensarmos do jeito certo: a tecnologia está aqui para nos servir, não o contrário. Fazemos isso transformando as distrações em trações. E como? Decidindo quando e como vamos usá-la. Ou seja, não tem nada de errado em assistir Netflix, usar o Facebook ou o Instagram, desde que o momento de usá-las faça parte do seu planejamento.
Tração e distração
Já sabemos que a diferença entre as duas ações é a intenção. Mas o que nos leva para a tração ou distração? São duas coisas:
A primeira é o que nós chamamos de gatilho externo. Nós, da área de Produto, já conhecemos bem os alertas, alarmes, notificações etc, que colocamos nos aplicativos e outros Produtos que entregamos para o mercado. Mas isso é só um gatilho externo. A fonte do problema não é o que acontece fora, mas sim o que acontece dentro de nós mesmos. Ou seja, os gatilhos internos. São estados desconfortáveis que nos levam a procurar alívio na distração.
Se fôssemos responder ao Platão há 2500 anos, diríamos que tudo o que fazemos não é baseado na busca de realizar nossas vontades e evitar as dores (isso é o que todos pensam), mas a verdade é que fazemos coisas baseado-se no desejo de escapar do desconforto. Portanto isso significa que gerenciar nosso tempo é desconfortável. Você pode ler todos os livros sobre produtividade possíveis, mas você nunca vai conseguir entender se você não descobrir de qual desconforto você está tentando fugir. Qual emoção você está tentando evitar?
Procrastinação e distração não são características de que há algo errado com você. Você é um ser humano normal, todo mundo fica distraído. A diferença entre alguém que está passando por uma distração e alguém que deixa as emoções evitarem que se faça o que se quer fazer é que quem é concentrado possui ferramentas à sua disposição que as guiam contra a distração.
Bom, e o que deve ser feito para que nos tornemos concentrados? Primeiro, domine os gatilhos internos. É uma forma de consertar a fonte do problema entendendo o que está causando o desconforto emocional (exemplos: ambiente de trabalho opressivo, problemas familiares). Independentemente do que seja, resolva o problema ou encontre formas de lidar com o desconforto de uma maneira saudável.
Aqui vão algumas técnicas para lidar com isso:
- Anote a sensação: escreva num papel qual é esse gatilho interno que você sente (medo, ansiedade, stress etc). Indiferente de como a sensação seja, você pode identificá-la e tomar nota disso é o mais importante;
- Seja curioso: não desdenhe do que está sentindo. Tente saber a causa do problema. Muitas pessoas que são facilmente distraídas, podem ser classificadas em duas categorias: os “culpadores” ou os envergonhados. Os “culpadores” sempre encontram algum motivo externo para sua distração, culpando coisas alheias à sua própria responsabilidade. Já o envergonhados não culpam o mundo em volta deles, mas culpam a eles mesmos. Sempre acham que problema está com eles, tornando o cenário ainda pior, pois geram ainda mais gatilhos internos, aumentando a distração.
Ao invés de “culpadores” ou “envergonhados”, devemos ser reivindicadores. Reivindique responsabilidades. Não pelos sentimentos que você conhece, você não controla o que sente, mas pela forma como você responde ao ambiente diante destes gatilhos. Exemplo: quando você sente o impulso de espirrar, você não controla essa vontade, mas você controla a sua resposta a isso, colocando, por exemplo as mãos no rosto ou usando um lenço.
Tem uma forma legal de fazer isso, que é chamada de Regra dos 10 Minutos. Essa regra diz que se você quer se entregar a alguma distração, utilize 10 minutos para isso. Só este tempo.
- Surfe no impulso: reconheça o que um gatilho é como uma onda, que cresce e diminui. Os psicólogos dizem que se nós pudermos esperar durante a sensação, sentir isso por alguns minutos, pode ajudar bastante. Então entenda a sensação, tente descobrir de onde ela vem. E quando você descobrir, se você conseguir lidar com ela por apenas 10 minutos, você verá que ela vai passar.
Já falamos dos gatilhos, que são a primeira causa da distração. A segunda causa da distração é não ter tempo definido para a tração. Você não pode chamar algo de distração a não ser que você saiba o que está distraindo você. Se você tem espaços em branco na sua agenda, alguém vai decidir por você como você usará o seu tempo.
A solução para isso é muito simples: planejar o seu dia. Algumas pessoas devem ficar incomodadas com a ideia de planejar todas as atividades do dia (sim, do dia todo), mas essa hesitação é apenas o medo do trabalho duro a se fazer. Quando falamos isso, não estamos apenas nos referindo ao trabalho, mas em tudo o que envolve também a sua vida pessoal.
Transforme os seus valores em tempo útil. Se você gosta de cuidar do seu corpo, por exemplo, se este é um dos seus valores, transforme-o em tempo dentro do seu calendário. Se encontrar as pessoas que você gosta é um dos seus valores, encontre tempo para isso também. Coloque isso na sua agenda.
Algumas formas de planejar a “tração”:
- Planeje seu tempo (não os resultados): a lista de afazeres diários podem estar matando a nossa produtividade. Estas listas podem ser uma das piores coisas se você realmente quer ter as coisas feitas. Isso porque elas geralmente são listas com resultados a serem alcançados, são coisas que precisamos terminar. Quando desenvolvemos um produto, por exemplo, precisamos de insumos. Estes insumos, na nossa agenda, são tempo e atenção. Se você planeja apenas onde quer chegar e não o “como vai chegar”, você está apenas enganando a si mesmo.
- Use mais tempo para se concentrar e menos tempo comunicando: muitos de nós passamos a maior parte do nosso dia nos comunicando e não nos dedicamos o suficiente para refletir. Parte do problema é que toda essa comunicação (reuniões, calls, e-mails, Slack etc) vem carregada de gatilhos externos que nos levam à distração. Nós podemos dizer aos nossos colegas ou família que estamos concentrados e não podemos ser interrompidos. Não há problema nenhum com isso.
E como evitar ser interrompido por gatilhos externos? Pergunte a si mesmo: o gatilho está me servindo de algo? Se não, tente esquecê-lo. Uma forma de fazer isso é mudar as notificações do seu smartphone, por exemplo. Além disso, deixe as distrações fora das reuniões, fora do jantar com a família, fora da festa com os amigos. Se queremos estar presentes fisicamente, nós precisamos estar presentes de corpo e mente.
Uma outra dica para manter as distrações fora do seu dia a dia é trabalhar com pessoas focadas. Nesses tempos de pandemia, essa última dica fica um pouco difícil de seguir, mas a tecnologia está aí para nos ajudar com isso também.
Existe um aplicativo chamado Focus Mate. Para usá-lo, você deve acessar o site focusmate.com e escolher um horário no qual você precisa focar para fazer suas tarefas. Encontre uma pessoa para trabalhar junto com você, clique no botão e receba uma resposta do seu novo colega, concordando ou não com o horário escolhido. Vamos dizer que ele concordou. Você deve logar no aplicativo no horário escolhido e voilá, veja seu novo colega concentrado do outro lado da tela.
Mas atenção: todas essas dicas de concentração só vão funcionar se você realmente identificar seus gatilhos internos, reajustar sua agenda, encontrando tempo para as tarefas e combater os gatilhos externos.
Pessoas que têm compaixão por si mesmas, têm menos problemas para se concentrar e serem atacadas por esses gatilhos, segundo estudos. Para se tornar uma delas, trate você mesmo como você trata um bom amigo. Entenda melhor você mesmo, seus gatilhos, não se julgue por conta disso. Encontre as melhores alternativas para conseguir o melhor para si mesmo.
Resumindo: nós temos o poder de controlar a nossa distração. Nós podemos escolher qual caminho, qual vida queremos seguir. Podemos aproveitar o melhor que a tecnologia tem a nos oferecer, porque podemos ser concentrados.
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