Nos últimos anos, a área de produtos digitais – sobretudo nas posições de Product Owner, Product Manager ou mesmo Analistas de Produto – tem ganhado destaque como uma das profissões mais promissoras e procuradas no mercado digital. Isso se deve, sobretudo, por influência da pandemia da COVID-19, que acelerou ainda mais a demanda por profissionais no campo de TI como um todo, impulsionando também o trabalho remoto como uma solução eficaz para manter as operações das empresas, na época.
No entanto, à medida que o mundo volta a se recuperar da pandemia e começa a passar por um novo cenário de desaceleração econômica, algumas organizações começam a considerar reduzir, ou até mesmo extinguir, as vagas remotas em Produto e demais áreas. Neste artigo, analisaremos o futuro do formato da gestão de produto.
O “boom” das vagas remotas em Produto e a onda de layoffs em 2023
Durante a pandemia, muitas empresas foram forçadas a adotar o trabalho remoto como uma medida de segurança e/ou continuidade de suas operações. A gestão de produto digital, por sua natureza colaborativa e de agilidade, conseguiu se adaptar rapidamente a essa realidade. Times antes habituados ao trabalho presencial, passaram a ter que entregar valor, da mesma forma, no home office.
A expansão das vagas remotas proporcionou vários pontos positivos para ambos os lados: as empresas passaram a conseguir contratar talentos de qualquer lugar, ampliando significativamente o pool de candidatos qualificados. Além disso, pode-se observar uma redução nos custos operacionais, como aluguel de imóveis e despesas relacionadas a transporte. Também há relatos, os quais eu particularmente defendo, de aumento na produtividade e no equilíbrio entre trabalho e vida pessoal por parte dos colaboradores, graças à maior flexibilidade que o home office possibilita.
Ocorre que, ainda em meados de 2022, com o mercado agitado pelo aumento da inflação, instabilidade política e pessimismo financeiro, podemos observar uma crescente alta nos juros de diversos países, que vem até hoje provocando um efeito cascata para países emergentes como o Brasil.
Desde então, entramos numa onda constante de layoffs, ou demissões em massa, em empresas de tecnologia de todo o mundo. Diversas empresas têm reestruturado seus quadros, mudado estratégias e, sobretudo, segurado investimentos. Enquanto na pandemia tivemos um “boom” exponencial na oferta de vagas e demanda por tecnologia, agora passamos pelo contrário: o mercado está reduzindo investimento em startups e negócios de tecnologia que não têm demonstrado lucro e sustentabilidade acelerada.
Com tudo isso acontecendo (menos oferta de vagas e muitos profissionais afetados por demissões em massa) passamos a ter outro cenário inédito quando o assunto é contratação em Produto: menos vagas de trabalho remoto, voltando em altas as ofertas híbridas e presenciais.
Cultura organizacional e remote first
Embora o trabalho remoto tenha se mostrado eficiente para alguns, muitas empresas ainda valorizam mais a colaboração e inovação que pode surgir de interações presenciais. Em áreas como a gestão de produto, onde precisamos lidar com diferentes equipes e contextos (negócio, desenvolvimento, marketing, jurídico, etc.), a comunicação e o compartilhamento de ideias podem ser facilitados em um ambiente físico, com todos presentes. Isso porque elas acreditam que atividades presenciais podem permitir um maior engajamento pessoal e aprimorar a colaboração entre times.
Outro fator que fortemente influencia a decisão de uma empresa em continuar ou reduzir a oferta de vagas remotas é a sua cultura organizacional. Já existem empresas que aboliram total ou parcialmente o trabalho presencial, que possibilitam ao funcionário a escolha pelo regime de sua preferência, algo conhecido como remote first (remoto primeiro). Enquanto isso, há empresas que alegam que o trabalho remoto reduziu consideravelmente o gerenciamento de desempenho e a produtividade dos times, ou ainda, seus próprios resultados. Essas costumam optar por modelos híbridos (com idas dos funcionários até 3x na semana ao escritório) ou presenciais.
Não existem ainda dados concretos ou pesquisas finais sobre o real impacto dos formatos, mas esses são alguns dos mais fortes argumentos utilizados para defesa dos regimes híbridos e presenciais, frente ao remoto.
Conclusão
A gestão de produto digital teve um crescimento significativo durante a pandemia, com um aumento nas vagas remotas disponíveis. No entanto, à medida que o mundo se recupera e passa por um novo cenário de pessimismo econômico, algumas empresas estão começando a reduzir ou mesmo extinguir suas vagas remotas. A colaboração e a inovação face a face, a construção de uma cultura sólida e a melhoria do gerenciamento de desempenho e produtividade são fatores que influenciam diretamente essa decisão.
É importante ressaltar que o trabalho remoto ainda terá um papel relevante na nossa área, e muitos profissionais de outros ramos da tecnologia, como um todo, também o defendem. As empresas que perceberam os benefícios dessa modalidade continuarão a oferecer oportunidades de trabalho remoto, mesmo que, provavelmente, em menor escala. O futuro da gestão de produto dependerá de uma combinação equilibrada entre trabalho remoto e presencial, para que possamos alcançar o melhor dos dois mundos.
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