4 princípios essenciais da Cultura de Produto - Cursos PM3
Mari Cavalcante

Mari Cavalcante

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O Product Camp 2023 contou com a participação do palestrante e escritor Joaquim Torres, Founder & Principal Consultant da Gyaco, no primeiro dia do evento, ocorrido em dezembro do ano passado, para falar sobre um tema fundamental para área de Produto: a Cultura de Produto. O assunto abrange toda a estrutura de uma empresa e tem como premissa a entrega de produtos de sucesso no menor tempo possível. Ao longo do texto vamos explicar mais sobre isso.

Para conduzir o tema, Joca falou sobre 4 princípios que considera essenciais, a partir de sua longa experiência profissional em grandes empresas e como autor de livros. São eles:

1 – Entregas rápidas e frequentes
2 – Foco no problema
3 – Entrega de resultados 

4 – Mentalidade de ecossistema

Cada um desses passos foi abordado pelo palestrante por meio de exemplos práticos e da vida real de uma pessoa de produto: tempo curto, dinheiro escasso e times enxutos.  Em resumo, esses pontos mostram a necessidade de ter um time alinhado, com foco nas entregas e atento para as adversidades que se apresentam pelo caminho. E sabemos que são muitas!  Mas o objetivo é sempre o mesmo: gerar produtos de sucesso. 

Para deixarmos o tema mais claro para o nosso leitor, separamos os principais pontos levantados pelo palestrante:

1 – Entregas rápidas e frequentes

A tão conhecida frase ⁠”Se você não sente vergonha da primeira versão do seu produto, então ele foi lançado depois da hora”, do cofundador do LinkedIn, Reid Hoffman, abriu a palestra.  A premissa dessa frase é a de que não é possível (talvez caiba um “nunca” aqui) conseguir uma versão perfeita de um produto para lançar no mercado. E se o orgulho do produto desenvolvido bate logo de cara, sem espaço para sentir nem um tiquinho de vergonha, provavelmente você gastou muito dinheiro nisso, além de tempo.
 

Joca ressalta ainda que é preciso ficar atento ao MVP (Minimum Viable Product ou Produto Viável Mínimo), pois quanto mais rápido o produto na mão do cliente, mais veloz o retorno, e isso é melhor para todos: empresa e clientes.

Para exemplificar um discovery rápido, Joca mostrou uma cena do filme “Fome de Poder (The Founder) sobre a expansão do McDonald’s que mostra na prática como isso é possível. Em pouco mais de dois minutos, os irmãos Mac e Dick McDonald contam para o então vendedor e futuro dono da rede de fast-food, Ray Kroc, como chegaram a um modelo eficaz  para a preparação e entrega de lanches aos clientes.

Com a simulação de uma cozinha riscada com giz no chão em uma quadra de tênis, os irmãos testam por algumas vezes o movimento dos funcionários, até encontrar um layout de cozinha ideal para o negócio.

“Enfim, após seis horas, acertamos tudo. Uma sinfonia de eficiência, nenhum movimento desperdiçado”, pontuou um dos irmãos.

Joca afirma que esse é um exemplo de discovery de solução, feio rápido. discovery não precisa ser longo, ele pode ser curto.

2 – Foco no problema 

Joca nos mostra como temos a tendência de ouvir um problema e imediatamente já propor uma solução, e implementar. Mas talvez não seja a melhor, nem a ideal para aquele momento ou situação.  Quando ele fala em focar no problema, é no sentido de dar espaço para pensarmos em outras possibilidades de solução e encontrar uma que seja mais rápida e mais fácil de ser implementada, e que entregue valor rápido tanto para o cliente quanto para a empresa que é dona do produto. 

O consultor citou a experiência que teve em trabalhar em uma empresa em que o time estava desenvolvendo há um ano um MVP. “Não dá para chamar de MVP”, pontua. 

O cenário mudou ao implementarem uma solução de notificação via WhatsApp. Quando isso aconteceu, em 10 dias conseguiram o resultado que buscavam há um anos. 

“Essa questão de foco de problema tem muito disso, a gente entende melhor o problema, pensa em hipóteses e soluções para depois implementar aquela que é mais rápida, para entregar algum valor”, afirma Joca.

3 – Entrega de resultados

Joca usa mais um exemplo para falar sobre entrega de resultados. Ele cita sua experiência em uma empresa de imóveis na qual teria que fazer uma transformação digital para manter a competitividade diante dos concorrentes. A empresa tinha como objetivo gerar mais leades através da internet. Joca definiu que para isso teria que ter um time apenas interno, e não trabalhar mais com times terceirizados.

“Eu sempre tive um sentimento de que era muito melhor ter time interno do que time terceirizado, assim você consegue alinhar mais com a cultura e objetivos da empresa. Time terceirizado está ali para entregar a funcionalidade que você pediu. Essa é a maneira de trabalho do time terceirizado. Eu fiz as contas e vi que era até mais barato ter time interno, e propus que tivéssemos apenas time interno. Tudo baseado em minha percepção de que seria melhor ter pessoas mais ‘vestidas’ dentro da cultura [da empresa]”, explica.

A sugestão foi acatada pela empresa e o resultado foi o crescimento no número de leads digitais, o que acabou comprovando a sua percepção em relação à eficiência em manter times internos apenas.

“Produto é meio e não a nossa razão de existir. Produto é o veículo através do qual a gente atinge os nossos objetivos e os nossos resultados. Isso é importantíssimo. A gente acha que nasce para fazer produto, não. A gente nasce para atingir resultados”, afirma Joca.

Essa frase reforça a importância da entrega de resultados para a empresa e clientes, e de uma entrega rápida que deve ser a prioridade de qualquer time de Produto, segundo Joca.

4 – Mentalidade de ecossistema

Por último, Joca fala sobre a mentalidade de ecossistema. Como a maioria das empresas tem mais de um cliente, é preciso tomar cuidado para não focar demais em um cliente, e desamparar outro. E da mesma forma negligenciar uma área em prol de outra.

É necessário atender às necessidades de cada cliente e direcionar os times para criar essa mentalidade na área de produto. Ao mesmo tempo, é saber identificar quando outra área precisa de ajuda para o desenvolvimento de um produto ou funcionalidade.

Joca citou como exemplo uma empresa de benefício corporativo que oferece desconto em academias. Durante a pandemia as academias tiveram que fechar e a empresa se viu diante de um cenário inédito e caótico. Sem academia, não fazia sentido para as empresas continuarem com o contrato.

Uma das soluções foi criar uma página com aulas online para reter as empresas, que passariam a oferecer essa nova funcionalidade para os funcionários. Para não desamparar as academias, pensando num cenário futuro em que a pandemia passaria, a empresa de benefícios passou a pagar as academias por alunos que assistiam às aulas. Assim, mantiveram parte dos contratos e ajudaram muitas academias que não precisaram fechar definitivamente. 

Em suma, a mentalidade de ecossistema significa tomar decisões que geram valor para todos os atores envolvidos.

Como se destacar na área de produto

Joca finaliza a palestra respondendo às perguntas da plateia. Como entramos em um novo ano, vale deixar uma dica, ou melhor, mensagem, de como a pessoa de produto pode encontrar novos rumos na realidade atual do mercado que vem de um cenário de layoffs e times cada vez mais enxutos.

O consultor afirma que a área de produto é cada vez mais necessária em todas as empresas, não apenas nas de tecnologia, mas também nas empresas tradicionais que estão descobrindo a importância e o poder do digital agora.

“Nós que temos experiência em produtos digitais, nós somos as pessoas  capazes de levar essa cultura para as empresas mais tradicionais. O nosso mercado é muito mais amplo do que só empresas de tecnologia, mas para a gente entrar nesse mercado, nós precisamos saber como entrar”, acredita.

Para Joca, a forma de entrar é aplicando esses 4 princípios que acabamos de explicar. Desses quatro princípios, ele aponta que o mais importante para as empresas mais tradicionais, a que mais importa é o número 3: entrega de resultados.

“A gente está constantemente conectado com o resultado que o nosso produto está entregando. Se a gente como pessoa de produto tiver bastante clareza de qual resultado a gente está entregando para a empresa e usuários, e conseguindo deixar isso claro para a organização inteira, acho que aí a gente ganha grande espaço dentro das organizações mais tradicionais que não estão acostumadas a lidar com desenvolvimento de produto”, finaliza.