As features não são para sempre e às vezes chega o momento de desligar aquilo que não faz mais sentido.
Lembro como se fosse hoje. Era 2017 e estava atuando num app de cartão de crédito de uma das maiores instituições do Brasil. Um pouco depois do lançamento de uma nova versão do produto, levantamos algumas discussões sobre não migrar features que tinham no app antigo para o novo.
Nas reuniões intermináveis, sempre vinha a palavra desserviço. Diziam que era um absurdo retirar algo que já existia na versão anterior. Mas será que era mesmo?
Vamos usar como exemplo um produto que se tornou muito popular e se estabeleceu em definitivo nos últimos 10 anos: a Central Multimídia dos carros atuais.
Esse é um produto que já sai da fábrica em todas as marcas, dos modelos mais simples aos mais luxuosos. Em algum momento desse caminho, os fabricantes entregavam, como diferencial, a sua Central Multimidia ter o navegador GPS com o mapa incluso.
Claramente era uma feature que tinha valor percebido o suficiente para remunerar os fabricantes com uma grana extra em função disso. Então veio a expansão cada vez maior das redes de celular, especialmente com a internet móvel: aumento da velocidade e capacidade com o 3G, 4G, agora o 5G e por aí vai…. (sem falar na redução do custo desse serviço).
Nessa jornada, as pessoas começaram a abandonar o navegador que elas tinham pago mais caro pra ter acoplado no carro e passaram a navegar pelo celular, pois não era somente pela busca de um caminho desconhecido, mas agora era sobre possibilidades de trajetos com menor trânsito, rotas alternativas a pedágios, e outras inteligências que somente de forma conectada à internet era possível.
Bem, hoje o grande diferencial não é mais ter a funcionalidade de navegador acoplada ao dispositivo, e sim a capacidade de “conversar” com o celular, que é chamado de “espelhamento”, e utiliza majoritariamente o Android Auto e o Apple CarPlay.
Depois te compartilhar esse case, confira algumas considerações importantes sobre não acumular features em um produto:
1 . Simplifique o produto e a vida do usuário
Para que entregar funcionalidades que o usuário não usa mais? Apenas para dizer que seu produto é mais completo? Isso seria apenas uma métrica de vaidade, que levaria complexidade e retira recursos (processamento, memória, capacidade produtiva do time, etc) do produto que poderiam ser utilizados para resolver problemas mais importantes.
2 . Foque na inovação do SEU produto e não no do concorrente
Imagine-se como o dono do produto Central Multimidia e pergunte-se se a melhor estratégia seria buscar alguma inovação que concorra com o Waze ou buscar uma parceria com o Google e a Apple para permitir a “conversa” entre o seu produto e o deles.
3. Entenda o mercado e use os dados de forma mais ampla e menos óbvia
Talvez o Waze nunca tenha sido considerado um concorrente para o produto Central Multimidia. Quem nos diz que acabou virando são os dados sobre o consumo do produto pelos(as) usuários(as). Quando começaram a observar que mesmo com a função de navegador o uso do celular continuou crescendo para essa funcionalidade, algumas hipóteses poderiam já ser levantadas.
4 . Entenda o problema do usuário
Pois é, o óbvio precisa ser dito. Em nosso exemplo, o navegador offline resolve sim, um problema de chegar em algum lugar desconhecido, mas será que não tem ali outras causas raízes que precisam ser exploradas? Como atualizações, tráfego, pedágio, via expressa, acidentes no caminho etc.
Esse é um exemplo sobre desligarmos uma função do nosso produto! Para alguns (e é importante ter ideia de quantos), com certeza não foi algo bacana, e pode ter gerado um desserviço. O importante é tirar esse “achismo” e usar estratégias para entender o momento e o contexto para desligar alguma funcionalidade.
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