Este artigo é uma tradução adaptada de “How to do a Product Critique“, escrito por Julie Zhuo. Por ser um conteúdo de alto valor, compartilhamos aqui sua tradução como forma de ajudar a comunidade brasileira de Produto a evoluir. Boa leitura!
Tudo bem, você me pegou. O título deste artigo é um pouco chique demais. Crítica de produto (Product Critique) é um jargão corporativo disfarçado. Ele faz pensar em quadros brancos rabiscados com marcador azul de cheiro forte e setas conectando conceitos abstratos como product-market fit e proposta de valor. O termo parece piscar, dizendo “sou uma pergunta de entrevista” e, embora seja algo sobre o qual eu adoro conversar com os candidatos, a linguagem empolada transforma o conceito em algo muito mais formal do que deveria ser.
Mas, falando de forma simples, o termo se refere a explorar por que alguns produtos e experiências funcionam para as pessoas e outros não.
O design de produto não é uma habilidade inata, com a qual se nasce, como ter um excelente ouvido para distinguir notas ou ter músculos fortes para exibir nas Olimpíadas. Desenvolver uma boa intuição sobre o produto – ou seja, desenvolver um ótimo sexto sentido sobre quais recursos ou experiências irão se conectar às pessoas e se tornarão bem-sucedidas – envolve 2 princípios fundamentais: 1) entender os desejos das pessoas e 2) entender como as pessoas reagem às coisas.
Felizmente, todos nós somos pessoas (exceto aqueles de nós que são “cachorros” na Internet), e todos nós reagimos às coisas. Então, se você quer aprimorar sua intuição do produto, comece por você e por como você experimenta algo novo.
Como exemplo, digamos que você queira testar um novo aplicativo. Você baixa o app na loja e faz a ativação, então, já pode começar sua crítica de produto.
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Espere, antes que a tela de carregamento pisque pela primeira vez, há muito a considerar:
- Como esse aplicativo chamou sua atenção? Foi a recomendação de alguém? Interessante. Por que te falaram sobre isso? Ou você leu sobre este aplicativo em um artigo? Se sim, o que levou você a procurar e baixar o app? Ele apareceu como sugetão? Tinha um ícone ou um nome que chamou a sua atenção? Você já ouviu falar sobre esse app antes e, caso sim, quantas vezes isso aconteceu? Por que você não fez o download na época e o que acabou levando você a experimentar o app agora?
- Em uma linha, como você resumiria esse aplicativo no momento em que está agora? É interessante comparar a resposta a essa pergunta antes e depois de usar o aplicativo.
- Qual é o buzz do momento? Você sabe se é popular? Se é útil? Se é produtivo? Fácil de usar? Você chegou a olhar para as classificações, os comentários e a descrição enquanto fazia o download do aplicativo?
Pensar nas maneiras pelas quais suas primeiras impressões a respeito de um novo aplicativo são formadas ajuda você a entender melhor a proposta de valor e o marketing do app, assim como o que a equipe de Produto deve estar fazendo – implícita ou explicitamente – para criar esse tipo de impressão.
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Agora é hora de abrir o aplicativo e mexer nele. Use o tempo que precisar nessa etapa, assim como você faria normalmente (o que deve ser mais alguns minutos em vez de meia hora) e pergunte a si o seguinte:
- Qual é a experiência de começar ou se inscrever? Foi fácil, com apenas alguns cliques, ou foi desafiador com várias etapas de verificação?
- Como este aplicativo se autoexplica no primeiro minuto? Ficou claro sobre o que faz e como funciona? A mensagem foi amigável? Confusa? Você leu e reteve as informações ou pulou porque parecia prolixo e chato?
- Quão fácil de usar é o aplicativo? Você entendeu imediatamente sobre o que era o aplicativo ou precisou dar uma olhada para descobrir e testar as funcionalidades? Existem muitos itens de navegação, botões e dispositivos para processar, ou o app parecia familiar e simples?
- Como você se sentiu ao utilizar o aplicativo? Uma ilustração fofa, uma piada engraçada ou um conteúdo interessante fez você sorrir? Você sentiu algum tipo de frustração por não conseguir voltar para uma tela anterior? Você se sentiu mais inteligente e ou otimizou sua produtividade ao usar este aplicativo? Você notou um detalhe em particular e pensou “uau, eu nunca vi isso antes”?
- O aplicativo atendeu às suas expectativas? Olhando para o que você achava que o aplicativo faria, ele correspondeu à sua experiência ao usá-lo? O app resolveu o seu problema de maneira eficiente? Se for um aplicativo de conteúdo, o conteúdo foi atraente?
- Quanto tempo você gastou usando o aplicativo? O tempo geralmente se correlaciona com o interesse. Se você passou muito tempo no aplicativo, o que manteve o seu interesse?
Assim como acontece em relação às pessoas, a maioria das opiniões sobre um produto é formada nos primeiros minutos. Uma rápida análise mostra se o aplicativo realmente agrega valor, se é fácil de usar e se parece bem desenhado.
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Após o primeiro uso de um aplicativo, os dias e semanas seguintes são muito importantes para considerar questões mais amplas de engajamento e crescimento:
- Com que frequência você usou o aplicativo? Quando você costuma usar? O que leva você a abrir o app? São as notificações na tela? Ou o fato de todos os seus amigos ainda estarem falando sobre o app? É porque você voltou a acessá-lo várias vezes? Este aplicativo se tornou um hábito na sua vida? Por que ou por que não?
- Como este aplicativo é em comparação a outros aplicativos semelhantes? Que coisas ele faz melhor ou pior? O que faria você escolher este aplicativo em vez de outro semelhante?
- O que as outras pessoas pensam deste aplicativo? Entrar em contato com outras perspectivas é uma das maneiras mais rápidas de aprender sobre o que funciona e o que não funciona no mercado. Leia comentários. Leia comentários em blogs. Leia tweets sobre este aplicativo. Pergunte aos seus amigos o que eles pensam. Pergunte aos seus primos que moram em uma cidade diferente da sua. A impressão deles combina com a sua? De que maneira é diferente e por que você acha que é diferente?
- Com base em tudo o que você sabe, quão bem-sucedido você acha que o aplicativo será daqui um ano? Seja realista e tome uma atitude. Faça anotações em algum lugar, mesmo que não mostre para ninguém. Mas trace uma previsão clara e para a qual você pode voltar e ver se tinha ou não razão. Essa é uma das maneiras mais objetivas de combater o viés de retrospectiva.
- (E avalie depois de um tempo), você tinha razão sobre como esse aplicativo se sairia? Se não, por que não? Como suas preferências e gostos pessoais eram semelhantes ou diferentes dos das pessoas no mercado mais geral? Você deve entender isso para alinhar melhor suas opiniões no futuro.
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Não há atalhos para desenvolver intuições melhores em relação aos produtos, além de uma observação atenta. Passando pelas perguntas anteriores para tudo o que experimenta – usar um novo aplicativo, reservar viagens, ficar na fila da Disneylândia, devolver um pacote –, você começa a entender quais detalhes levam a quais reações.
Grandes experiências não acontecem por acaso. Os melhores designers e criadores de produtos conhecem as pessoas. Eles entendem o que motiva, o que encanta e o que intriga os outros. Eles têm teorias fortes sobre por que qualquer produto ou serviço bem-sucedido é bem-sucedido e por que qualquer produto ou serviço ruim fracassou. Eles sabem disso porque observam e estudam as pessoas — inclusive eles mesmos — há muito, muito tempo.
Esse processo não precisa ser rotulado como uma crítica ao produto. Não precisa ser um teste ou uma pergunta de entrevista. Não tem que acontecer por causa de alguma outra pessoa ou motivo.
Isso só tem que acontecer porque você tem curiosidade. Porque você quer aprender a construir coisas boas.
Observe e aprenda. Isso é o que precisa ser feito.
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