Essa série é para compartilhar com o Brasil e o mundo como as empresas estão estruturando a sua área de Produto para construir produtos cada vez melhores. Essa série de artigos servirá de benchmark para qualquer empresa e em qualquer estágio, pois estaremos conversando com diferentes tamanhos de empresas.
A primeira empresa dessa série vai ser a Unico, que possui uma equipe de Produto incrível e um dos entrevistados foi o Raphael Farinazzo, Head de Produto na Unico, que também passou por Xerpay, Involves e RD Station. Além disso, também temos o Gustavo Cossa que colaborou com as respostas. Ele é Product Operations Specialist na Unico e tem passagem por MadeiraMadeira e Nubank.
Obrigado por compartilhar e ajudar a comunidade brasileira de Produto, pessoal!
Essa entrevista foi separada em 4 características
1 – Equipes de produto na Unico
Quantos PMs vocês têm atualmente?
R: Em torno de 50 pessoas, contando lideranças.
Como vocês estruturaram suas equipes? Em torno de produtos, tipos de usuários, jornada do usuário, métricas ou um mix? Como isso mudou ao longo dos anos?
R: A Unico possui um portfólio de produtos B2b e N2c, além de produtos internos, que chamamos de “componentes” e são soluções compartilhadas entre diversos produtos.
Em nível de tribo, temos Produto, Design, Engenharia, Agilidade e Análise de Dados, que reportam à VP de Produto e Engenharia; e temos equipes de Product Marketing, reportando à VP de Marketing. Em nível de squad, apenas Produto, Design e Engenharia.
Cada tribo é livre para definir seus próprios squads. Em alguns casos, definem por etapa da jornada, em outros por usuário… enfim, acontece de tudo.
Fora das tribos, existe na VP uma estrutura chamada CTO Office, onde estão Product Ops e outras áreas cross.
Temos ainda, naturalmente, as áreas de Marketing (geração de demanda), Vendas, Onboarding, Customer Success, que estão nas VPs de Marketing ou VP de Clientes. Também se dividem por produto, mas não fazem parte da dinâmica das tribos, apenas compartilhamos alguns ritos e metas. Além disso, somos bem próximos das áreas de Privacidade, Risco e Segurança.
Produto e Design reportam para a mesma pessoa?
R: Não, essas lideranças se encontram apenas sob a mesma Vice-Presidência, de Produto e Engenharia, mas dali em diante, são diretorias diferentes.
Como são divididas essas diretorias de Produto e Design?
R: São propostas de organização um pouco diferentes, Design tem muito mais cara de chapter, com um único diretor e pessoas alocadas nos times e de maneira mais horizontal.
Já em Produto, assim como em Engenharia, cada tribo tem o seu Head/Diretor, e acaba sendo um pouco mais vertical, com GPMs e Gerentes de Engenharia.
Como é ter a gestão de Produto, Engenharia e Design sob a mesma Vice-Presidência? Você enxerga vantagens nessa estrutura? Pois não é tão comum, normalmente encontramos pares de Produto e Engenharia (CTO e CPO).
R: Funciona muito bem. Mas sabe que por muito tempo fui contra? Eu achava que o ideal era serem pares mesmo, porque são disciplinas muito diferentes. Sempre que via as áreas sob a mesma estrutura, a pessoa que liderava ambas acabava sendo originalmente de Engenharia e entendia pouco de produto; ou, em casos mais raros, alguém de negócios que não entendia de nenhum dos dois.
Porém, vejo que na Unico funciona muito bem e o segredo para isso é a pessoa que ocupa a cadeira. O Nelson, nosso CTO, é muito experiente em ambas as áreas e consegue liderar sem pender para uma ou outra, pelo contrário, é visto como referência por ambas as áreas.
A Unico tem carreira em Y? Se sim, como funciona?
R: Sim, nossa progressão possui 10 níveis. Do nível 4 em diante, existe tanto a carreira de contribuição individual (IC4) quanto de liderança (M0). Ambas seguem até o último nível (IC10 / VP). E isso não está “só no papel”. Com muito orgulho, temos alguns IC7, IC8 e até IC9; são pessoas com alta capacidade técnica que atuam em projetos de alta complexidade, sem liderar pessoas.
2 – Planejamento de produto na Unico
Até que ponto vocês planejam as coisas no roadmap?
Na virada do ano, fizemos um roadmap anual de 2023 onde sequenciamos apostas entre Q1, Q2 e segundo semestre. Em alguns casos, não teve como fugir de colocar a própria solução no roadmap. Por exemplo, “integrar com o componente X” é algo que está tão validado e já admitido como necessário que não tem porque mascarar: é feature, e é importante.
Ao início de cada quarter, vamos revisando esse roadmap para ver se ainda está aderente, e aí acontece de inserirmos algo na frente de tudo, adiar coisas para o ano que vem etc.
Mas sempre que fica para o ano seguinte, é uma incógnita, porque o planejamento da virada do ano pode mudar algumas prioridades.
Vocês usam OKRs ou alguma metodologia específica para ajudar no planejamento e alinhamento?
R: Sim, o bom e velho OKR. Existem sempre 4 ou 5 anuais, da empresa toda, e a cada virada de trimestre as tribos (ou produtos) definem seus OKRs. No meu produto, fazemos em nível de squad apenas – ou seja, não vemos muito sentido em ter um OKR para todo o produto, dado que as metas do produto já estão contidas em algum OKR da própria empresa.
3 – Dados e KPIs
Dentre várias métricas que vocês devem olhar, quais você acredita que na Unico são as mais importantes para a área de roduto como um todo? Independente dos squads
R: Com certeza, muito devido ao momento atual do mercado, as métricas ligadas a negócio e finanças, como custos e a margem dos produtos, e como conseguimos evoluir esses indicadores.
Os OKRs, metas ou análogo, de cada time sempre é cascateado desses KPIs? Como vocês fazem a correlação?
R: Sempre” é um pouco forte. Depende do produto e sua maturidade ou estágio no ciclo de vida. Como hoje a Unico é bastante plural no quesito de segmentos de mercado, nem sempre esse cascateamento ocorre.
Por exemplo, estamos com alguns produtos em fase de lançamento. É muito cedo para olhar margem e excelência operacional.
4 – Cerimônias de Produto na Unico
Antes de falar das cerimônias, queria dar mais contexto sobre algo: a área de Product Ops ajuda bastante na padronização do que é importante, mas preserva a autonomia necessária para cada liderança definir o que é importante na governança da sua tribo.
Como funcionam as reuniões de product review? Qual a frequência?
R: É uma agenda trimestral por tribo (produto). A pauta é trazer o que realizamos do que havíamos planejado para o quarter e qual o plano para o próximo quarter. É “em cima” do roadmap do produto, envolvendo tanto as entregas de valor quanto o backlog de engenharia. Então, de certa forma, é uma “Product and Engineering Review”.
Quem participa e quem “toca” essas reuniões?
R: As lideranças da tribo, os Product Trios (PM + PD + Eng Leader) de cada squad e os principais stakeholders: time executivo da empresa (VPs), lideranças de Vendas, Product Marketing, Geração de Demanda, Sucesso do Cliente, Operações, Suporte etc. Eu prefiro fazer uma breve introdução e deixar PMs apresentarem suas realizações e planos.
Para facilitar a vida de quem apresenta, o time de Product Ops oferece os templates da apresentação, onde o time ainda é o dono da Narrativa, mas deixamos claros quais slides são “obrigatórios”, no sentido de serem informações nas quais os stakeholders estão muito interessados.
E as design critiques, como funcionam? PMs participam?
R: Na Unico, as design critiques são bastante voltadas para a parte técnica de Design. Por isso, hoje apenas Product Designers e suas lideranças participam. É uma oportunidade para estressar alternativas de possíveis melhorias técnicas de uma determinada proposta de solução, onde podem receber feedbacks e inputs de todas as pessoas do chapter.
5 – Ferramentas que a equipe de Produto da Unico utiliza
E das ferramentas que podem ser contratadas, quais vocês usam?
R: Acho que não tem muito segredo: documentos, planilhas, slides, gestão de tarefas. Hoje em dia as ferramentas que resolvem esses problemas são todas bem parecidas e, por segurança, evitamos mencionar quais estamos usando. Mas acredito que o diferencial está em quem usa!
Existe algo único, que talvez seja até cultural, na forma que vocês criam e melhoram produtos?
R: Não sei se é Unico, se me perdoa o trocadilho, mas vejo aqui uma maturidade muito legal dos times de Produto, Design e Engenharia. As discussões são de alto nível.
Fora isso, dois diferenciais que valem a citação são nossos princípios de “privacy by design” e “receita é consequência”. Ou seja, tudo que fazemos precisa focar em resolver necessidades reais do mercado e respeitar a privacidade de todos os envolvidos em nossos produtos. Quando a gente faz isso bem, o aumento de receita é uma consequência natural.
Obrigado pelas respostas, Farinazzo e Gustavo!!
PS: Já tenho algumas empresas programadas para esta série, mas sigo buscando outras. Acha que sua empresa poderia fazer parte? Me manda uma mensagem pelo LinkedIn ou por outra rede social 🙂
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