Não é de hoje que os OKRs dominaram o mercado de big techs e startups no mundo todo, influenciados pelo sucesso da aplicação pela Google. A abordagem, que viabiliza uma cultura de resultados, surgiu ainda na década de 70 na Intel, começou a ser fomentada e ensinada por John Doerr e hoje já conta com diversos cases de sucesso nos mais variados ramos.
Mas afinal, o que são OKRs? Se você não tem familiaridade, indico começar por esse outro material aqui, no qual você vai aprender tudo sobre como utilizá-los. Nesse artigo quero me limitar a analisar os desafios na implementação frente à cultura organizacional e o que podemos fazer para superá-las!
Motivação e quantificação do esforço
Quando entramos no contexto real de uma empresa, nos deparamos com uma história e diversas nuances: cada local desenvolve uma cultura única. É notória a preocupação crescente dos RHs com fit cultural e cultura organizacional, principalmente nas contratações de novos colaboradores. Entender a cultura da empresa, como as pessoas lidam com ela e como ela se enquadra para tomadas de decisão de grande impacto é fundamental, e na adoção de uso de OKRs não seria diferente.
O próprio John Doerr, no livro “Avalie o que Importa“, elenca alguns “superpoderes” essenciais à adoção da metodologia, cujo vejo ser definidores de sucesso ao se pensar em adotar o formato, seja de forma top-down ou bottom-up:
- Foco e compromisso com as prioridades;
- Alinhamento e conexão em prol do trabalho em equipe;
- O acompanhamento da responsabilidade;
- O esforço pelo surpreendente.
Precisamos ter clara a motivação de adoção de uma metodologia. É comum que frameworks e metodologias sejam adotadas visando melhoria contínua apenas com base em sucesso de aplicação em outros cenários, mas será que no cenário atual da minha empresa, essa adoção daria certo?
A verdade é que não, não existe uma bala de prata para resolução de problemas. É necessário, antes de tudo, se fazer um estudo de motivação, de prós e contras na adoção de qualquer ferramenta frente às que minha empresa já utiliza. Afinal, não é porque tem dado certo para N cenários, que também serve para o meu contexto atual.
Vale reforçar que não apenas na visão de procedimento, mas na quantificação do esforço necessário para implementação: a adoção de um novo método também é um desenvolvimento. Um desenvolvimento que envolve, sobretudo, pessoas. Como pontuado acima, o enfrentamento das dificuldades de adaptação na cultura e rotina procedimental de diversos times, até que se alcance um nível satisfatório de qualidade na aplicação da ferramenta, precisa ser levado em consideração.
Para se ter noção, nos próprios exemplos elencados no livro de Doerr citado acima, muitos deles levaram mais de um ano para alcançar o que considerariam o “estado da arte” na aplicação dos OKRs. Alguns quase chegaram a desistir, e/ou tiveram que fazer uma reflexão e mudança profunda em sua cultura, como no caso da Lumeris.
É comum que, sem uma motivação e entusiasmo ferrenho, muitos percam o foco e a disciplina necessários na aplicação do método, causando um ciclo de frustração e planejamentos inadequados.
Planejamento e adaptabilidade
Qual a melhor forma de se planejar os OKRs? Não existe uma resposta única. Os procedimentos normalmente costumam acompanhar inícios de ciclos trimestrais, sendo 4 quarters anuais, mas isso também não é uma regra definitiva.
Um dos pontos onde os times se perdem muito é no tempo que costumam dedicar a esse planejamento, visto que isso influenciará bastante na qualidade da aplicação da metodologia. Será que dedicar 2 dias para planejar OKRs para todo um trimestre e alinhar entre diversos níveis e times é suficiente no meu contexto? 1 semana? E ainda, será que estaremos prontos para ter tempo de revisar esses OKRs no decorrer do ciclo? Teremos um guardião específico para cada KR, ou todo o time se responsabiliza por esse acompanhamento?
A verdade é que seguir um passo a passo ao pé da letra nem sempre tratá resultado, pois como vimos acima, culturas são únicas! Cabe à nós, pessoas de Produto, analisar a realidade do nosso local de atuação para responder a essas perguntas, e mais: reforçar que entre planejamento e ação, levarão algumas tentativas até se alcançar uma qualidade adequada adequada na aplicação da metodologia.
Comunicação e interdependência
Pensar em OKRs é, acima de tudo, pensar em alinhamento de visão e estratégia de empresa. Times que performam sem um direcionamento claro, constantemente questionam se estão no caminho certo e se seus trabalhos agregam valor ao negócio. Tudo isso também influencia na moral e na performance do trabalho em equipe, podendo unificar ou segregar mais times que, no final, têm o objetivo comum de fazer seus produtos prosperarem.
Quando partimos de um princípio de interdependência e colaboração entre as diferentes equipes, podemos alinhar com primazia e comunicar claramente. São pontos de extrema importância a se levar em consideração para o sucesso dos OKRs, mas que também muitas vezes recebem menos atenção do que merecem.
Partindo de uma conexão entre principais indicadores, onde queremos chegar e como cada time planeja alcançar esses objetivos, seja individual ou conjuntamente, ter pontos de tangência bem alinhados ajuda todo o processo e definitivamente aumentam as chances de sucesso do método.
Concluindo
Para fechar análise e reflexão, talvez devamos pontuar: antes de tentar uma aplicação direta, nossa cultura está madura o suficiente para superar os desafios necessários para ter sucesso de forma macro e interconectada? Até onde vai a minha capacidade de convencimento e expertise para conseguir que mais pessoas apoiem o uso contínuo de forma disciplinada? O que já utilizamos para medir o sucesso das nossas iniciativas hoje, e o que podemos manter adotando uso de OKRs? Confira um trecho de uma conversa do Mesa de Produto que vai te ajudar a pensar sobre as complexidades dessa metodologia:
De longe e inegavelmente, já sabemos que OKRs caracterizam uma metodologia repleta de cases de sucesso quando se trata de cultura de resultados, sendo assim todos desejam replicar. Simplicidade é a chave, embora não necessariamente signifique facilidade. Aplicar a metodologia corretamente muitas vezes é um desafio ou não traz o resultado esperado. Mas é importante lembrarmos que sim, é possível e é bem consolidado! Seja para uma primeira implantação em um novo contexto, continuar tentando alcançar uma boa qualidade na aplicação, ou continuar aplicando onde já se demonstrou bons resultados pelo uso, os OKRs são um fenômeno.
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