Você já parou para pensar que uma extensão no Chrome pode ser uma excelente estratégia de produto? Foi o que diversas empresas fizeram para crescer – algumas já possuem um valuation bilionário, inclusive.
Alguns rápidos exemplos:
- A empresa Honey, que é uma extensão do Chrome que coloca códigos promocionais no checkout, foi comprada pelo PayPal por US$ 4 bilhões.
- Em 2020 o Grammarly, aplicativo que ajuda pessoas a corrigirem sua gramática em inglês, começou como uma simples extensão para o Chrome e naquele mesmo ano conseguiu fazer uma rodada de investimento de US$ 90 milhões, com um valuation de mais de US$ 1 bilhão.
- Em 2021 o Loom, aplicativo de mensagem por vídeo que também começou como extensão no Chrome, fez uma rodada com valuation de US$ 1.5 bi.
- O Postman, um aplicativo focado em testes de API através de requisições HTTP com uma interface gráfica, também começou como extensão. E adivinha? Na última rodada tiveram um valuation de US$ 5.6 bi.
- E também temos um caso brasileiro, da DragApp, que é uma extensão que transforma o seu Gmail em um CRM poderoso, e inclusive foi fundada por uma brasileira na Inglaterra, recebendo um aporte de R$ 2 milhões.
Então quer dizer que todo mundo deve seguir essa estratégia? Não é bem assim. Se fizer sentido para o seu seu público pode ser sim uma ótima estratégia, mas precisa ser avaliado primeiro. De imediato é possível citar algumas vantagens em adotar esse modelo:
- A taxa de desinstalação de extensões/plugins é baixa;
- A barreira para instalar é baixa;
- As extensões estão “quase sempre ativas”; e
- As pessoas têm uma tendência maior a pagar por extensões que facilitam o dia a dia.
Além disso, o mercado da Chrome Web Store é muito mais eficiente em termos de aquisição do que o da App Store ou Google Play Store. Por exemplo, existem mais de 2 milhões de aplicativos na Apple App Store e quase 3 milhões de aplicativos na Google Play Store, enquanto na Chrome Web Store existem cerca de 150 mil extensões disponíveis, com um total de aproximadamente 2 bilhões de usuários usando o navegador.
Resumidamente:
Lançar um app na Chrome Web Store permite que você tenha um potencial muito maior de atingir usuários.
Mesmo produtos que não nasceram como extensão conseguiram crescer sua base ao criar uma integração melhor com o browser. Um bom exemplo disso é o 1password, que foca muito na experiência no navegador para dar mais conveniência e melhorar a usabilidade de suas funções.
De acordo com o Stat Counter, o Chrome possui cerca de 65% de participação no mercado de navegadores e existem 137.345 extensões do Chrome disponíveis. O curioso é que apesar de terem muitas opções, apenas 1,79% (2.459) têm mais de 100.000 usuários, enquanto a maioria (86,3%) tem menos de 1.000 usuários (fonte: Debug Bear).
Para criar uma extensão para o Chrome basta saber HTML, CSS e JavaScript. Navegadores como Microsoft Edge, Opera e Brave são baseados em Chromium e todos têm APIs muito semelhantes. A API de extensão do Firefox também é amplamente compatível com a do Chrome e diversas extensões estão disponíveis em todos esses browsers, com algumas exceções. (Para saber como publicar uma extensão no Chrome, eles tem um ótimo tutorial)
Por outro lado, o Safari, que tem quase 20% do mercado de navegadores, não era compatível com extensões baseadas em Chromium durante a maior parte da sua existência. Recentemente a Apple mudou o direcionamento estratégico e está fazendo uma mudança para que o Safari também suporte extensões assim (mais aqui). De qualquer forma, originalmente as extensões do Safari podem ser feitas em XCode usando uma combinação de CSS, JavaScript e código nativo escrito em Objective-C ou Swift. E mesmo as extensões para Chromium vão precisar ser portadas para o Safari e nem todos devem funcionar perfeitamente. Para ser publicado como uma extensão oficial na Safari Extension Gallery da Apple, você precisa da assinatura do Apple Developer Program, que custa US$99 / ano.
Rápida análise de mais outros três exemplos interessantes:
VivaReal (usando extensão para o browser como POC para validar solution fit)
Durante uma parte do período no VivaReal estávamos bem focados em lançar uma busca do mapa para melhorar a jornada de busca de imóveis dos nossos usuários. Entretanto, tínhamos diversas dúvidas se o mapa realmente iria funcionar e se a latitude e longitude dos imóveis estava boa o bastante.
Pensando nisso, para fazer um teste com alguns heavy-users e, inclusive in-house, nós criamos uma extensão para o Chrome que carregava um mapa (feio, porém funcional) para validarmos se a proposta tinha fit de solução. Funcionava como o print abaixo:
Diferente dos outros dois exemplos, você pode ver que a extensão para o Chrome foi usada como estratégia de produto focado em validar parte da solução, algo que qualquer PM poderia pensar para mitigar riscos e aprender.
Teleparty (antigo Netflix Party)
Teleparty (anteriormente Netflix Party) é uma extensão para o Chrome que permite que um grupo de pessoas sincronize a reprodução do vídeo e de serviços de streaming como Netflix, Disney+, HBO e outros e cria uma sala de bate-papo. O sucesso foi tão grande que eles se tornaram a 3ª extensão mais baixada na loja do Chrome – e então começaram a expandir para além do Netflix e a suportar diversos outros serviços de streaming.
Curiosamente o Disney+ lançou isso como funcionalidade – só fica a dúvida se é como uma resposta ao Teleparty ou não.
Pinterest Save Button
O botão de salvar do Pinterest é outro ótimo exemplo de estratégia de produto a partir de uma extensão. Mais de 8 milhões de pessoas instalaram a extensão e durante muito tempo foi uma das grandes alavancas de growth da empresa. Não pude encontrar informações concretas sobre a importância dele para a empresa, mas conversando com colegas que trabalharam lá descobri que o seu principal objetivo é a criação de conteúdo (e a criação de conteúdo em todas as plataformas é uma regra de pareto – 80/20 – e não um comportamento do qual as massas participam). O mesmo dá para pensar com outras ferramentas como Google Keep. Evernote, Pocket etc.
Espero que esse texto tenha feito você pensar de maneiras diferentes na hora de lançar um produto ou funcionalidade. Sempre pense na extensão para o browser como uma possibilidade não só de crescimento do seu produto, mas como também engajamento e talvez até mesmo de validação de solução, conforme no exemplo que dei do VivaReal.
Esse tweet do Greig Senberg me inspirou a escrever o artigo.
Agradeço pessoas que deram feedbacks e sugestões ao longo da escrita: Camila Duarte, Gabriel Werlich, Khyani Miranda, Rafael Justino, Raphael Farinazzo, Priscilla Lugão.
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