6 habilidades mais importantes para PMs em times de plataforma
Renata de Lima

Renata de Lima

15 minutos de leitura

Recentemente, a pesquisa State of DevOps Report: Platform Engineering Editionda Puppet trouxe alguns insights muito interessantes sobre Product Management para Plataformas de Engenharia. Entre esses insights, havia uma lista de habilidades de gestão de produtos que, de acordo com a pesquisa, são as mais importantes em times de plataforma bem-sucedidos. Mas antes de mergulharmos nas habilidades de Produto, gostaria de destacar sobre qual tipo de plataforma estou falando nesse texto.

O que são plataformas de engenharia?

É comum encontrar diferentes definições e interpretações do termo “plataforma” no universo de tecnologia, dado aos diferentes contextos e aplicações desse conceito que encontramos atualmente no mercado. Minha experiência tem sido especificamente como Product Manager de Plataformas de Engenharia, e para fins de um melhor entendimento desse artigo, a melhor definição que encontrei para esse termo foi dada pelo Luca Galante no artigo “Platform Engineering 101: What You Need to Know about This Hot New Trend” que diz que: 

É a disciplina de projetar e construir cadeias de ferramentas e fluxos de trabalho que permitem recursos de autoatendimento para organizações de engenharia de software na era nativa da nuvem. Os times de plataforma fornecem um produto integrado geralmente chamado de “Internal Developer Platform” que cobre as necessidades operacionais de todo o ciclo de vida de uma aplicação”. 

6 habilidades mais importantes para PMs em times de plataforma 

Nesse contexto, a pesquisa da Puppet destaca que a função de gerente de produto em times de plataforma de engenharia é crucial para cultivar uma mentalidade de produto, evangelizando a plataforma e disseminando efetivamente informações em toda a empresa. E, para conseguir alcançar esses objetivos, algumas habilidades são essenciais, como mostra a imagem:

quais são as habilidades mais importantes para PMs em times de Plataforma?

Captura de imagem — Fonte: State of DevOps Report 2023 (Puppet).

Em tradução livre:

  1. Fortes habilidades de comunicação;
  2. Expertise de resolução de problemas;
  3. Capacidade de promover colaboração entre times multifuncionais;
  4. Capacidade de refinar as solicitações dos usuários em necessidades e requisitos essenciais;
  5. Profundo conhecimento de usuários internos;
  6. Vontade de desafiar normas já estabelecidas.

Recentemente publiquei um resumo desses insights no meu LinkedIn, e recebi uma pergunta muito interessante, trazendo a curiosidade para como e em quais situações essas habilidades são exigidas da pessoa de produto no dia a dia atuando em times de plataforma? E por isso resolvi expandir essas respostas nas seções a seguir.

1. Fortes habilidades de comunicação

Não é novidade que qualquer PM precisa se comunicar bem, mas quando falamos de PMs em times de plataforma, a habilidade de comunicação é ainda mais essencial, dado que seus stakeholders e usuários são muito próximos e muito diversos. 

Uma pessoa PM de plataforma interna vai precisar se comunicar com praticamente todas as áreas da empresa, e a forma de se comunicar com essas diferentes áreas também precisa ser adaptada a cada contexto. 

Em um determinado momento você vai estar refinando uma solução com o time de engenharia falando sobre assuntos extremamente técnicos. Em outro momento seu alinhamento pode ser com diretorias de negócio que na maioria dos casos, não irão entender a linguagem técnica das soluções que você definiu com o time. Então, é importante ressaltar que a pessoa de produto precisa encontrar meios de traduzir a linguagem técnica em termos que sejam mais acessíveis às pessoas de negócio, abstraindo a complexidade e os jargões que o time técnico geralmente usa no dia a dia.

É comum também que você precise dar visibilidade das entregas em diferentes fóruns e comunidades da empresa. A forma que você fala das suas entregas para o fórum de pessoas de produto precisa ser diferente da forma que você comunica para pessoas engenheiras, dependendo do contexto da sua plataforma. 

Evidenciar o valor que uma demanda técnica tem de impacto em métricas de negócio também é fundamental, mas não é uma tarefa fácil. Eventualmente uma solução técnica não vai mexer nenhum ponteiro de negócio específico, mas você como PM precisa deixar claro qual o benefício que aquela entrega trás para o negócio ou para o dia a dia dos usuários internos, seja ele a redução de custos, a otimização de processos ou a melhoria na experiência das pessoas desenvolvedoras.

Então, faz parte do dia a dia da pessoa PM de plataforma saber adaptar as mensagens e direcionar sua comunicação da forma mais adequada possível para cada público. 

2. Expertise de resolução de problemas

Resolução de problemas também é uma habilidade comum a qualquer contexto de Product Management. Mas também é possível pensar em alguns pontos bem específicos no contexto de PMs em times de plataforma.

Por exemplo, quando a plataforma é interna e puramente técnica, é comum que os usuários sejam muito próximos do time de plataforma e cheguem a você não só com um problema, mas com uma ideia de solução já pronta em mente (e por vezes com a solução pré-desenvolvida quando estamos falando de pessoas usuárias que também são desenvolvedoras). A nossa reação inicial tende a ser de acolhimento daquele problema e muitas vezes (por diversas razões) já aceitamos aquela primeira solução como parte do nosso backlog

Entretanto, nosso papel como PM em times de plataforma é dar dois passos para trás e (1) validar se aquele problema realmente existe e é comum a outros usuários, e (2) entender e explorar o problema com profundidade para trazer mais informações para o time

Alguns problemas podem ser muito específicos a somente um pequeno nicho de usuários e nesses casos talvez não seja relevante investir esforço e tempo para ter uma solução de plataforma aplicável a outros segmentos. Nesse cenário, técnicas que podem ajudar a validar o problema são: mapeamento de processos, jornada do usuário, Service Blueprint ou Jobs To Be Done

A partir de um mapeamento detalhado, você consegue conversar com seus usuários e entender se diferentes segmentos sentem a mesma dor em etapas similares da jornada

Quando o problema for validado, o time pode partir para um entendimento mais profundo e detalhado das dores. E a partir daí, você pode decidir se vale a pena avaliar a solução proposta por aquele usuário ou stakeholder, ou idear novas hipóteses de solução com o time e sempre que possível colaborando e co-criando com esses usuários e stakeholders através de metodologias de ideação como brainstormings, crazy 8s, Design Sprint, entre outras.

Uma metodologia geralmente esquecida em produtos mais técnicos e de plataforma é o benchmarking, é bem provável que alguma outra empresa já tenha atacado ou desenvolvido alguma tecnologia para resolver o mesmo problema que você está analisando. Então, é importante também que a PM de plataforma, dedique um tempo para olhar para o mercado em busca de cases que resolvam problemas semelhantes ao da sua empresa, e traga essas ideias para compartilhar com o time.

Um outro ponto interessante, é que a pesquisa mostra que o principal objetivo das plataformas de engenharia é resolver problemas (como mostra a imagem abaixo), o que reflete diretamente no como os times de plataforma visam impedir que outros times de value-stream reinventem a roda, resolvendo problemas comuns repetidamente

Nesse sentido, o papel da pessoa PM é justamente encontrar problemas, dores ou necessidades comuns entre diferentes times de produto da organização, e conseguir, junto com o time de plataforma, desenvolver soluções que sejam de valor para uma maioria, reduzindo assim carga-cognitiva, a redundância de soluções e retrabalho dos times de produto.

objetivos de PMs em times de Plataforma

Captura de imagem — Fonte: State of DevOps Report 2023 (Puppet).

3. Capacidade de promover colaboração entre times multifuncionais

Quando falamos de produtos de plataforma é comum vermos uma imagem horizontal posicionada diretamente abaixo de algumas barras verticais, refletindo a ideia do conceito raiz onde plataformas encontram soluções comuns e conectadas aos diferentes domínios do negócio

Sendo assim, é esperado que uma PM de plataforma seja capaz de articular a colaboração, co-criação e o alinhamento entre esses diversos times, na construção colaborativa de determinadas soluções cross, como dito anteriormente. 

Um outro cenário comum é a colaboração entre dois ou mais times de plataforma para desenvolver soluções em conjunto para problemas ou metas compartilhadas, por exemplo: Atualmente o time que eu trabalho de Mobile Platform atua em colaboração com o time de Quality Platform para desenvolver uma solução de infraestrutura para automação de testes para todos os times de produto que constroem o aplicativo como produto para o usuário final. 

O papel das PMs nestes dois times é facilitar os momentos de integração e colaboração entre as duas plataformas, para que ambas equipes consigam andar na mesma direção de forma alinhada e no final tenhamos uma entrega de valor para os nossos usuários em comum. Na prática isso acontece através do pareamento das duas pessoas PMs, geralmente dividimos responsabilidades e atuamos juntas nas atividades de Discovery, na criação e manutenção das documentações e facilitação das reuniões entre os times.

Algumas empresas também podem adotar o princípio de Inner Source, ou seja, o uso de princípios e práticas do Open Source dentro da organização, como forma de possibilitar que pessoas desenvolvedoras contribuam com o código de outros times ou do próprio time de plataforma, a fim de aumentar a colaboração e transparência. 

Nesses cenários, o papel da PM é ter as demandas bem documentadas, fazer alinhamento de processos com outros times e eventualmente compartilhar backlog de itens de trabalho com diferentes contribuidores dentro da empresa.

4. Capacidade de refinar solicitações dos usuários em necessidades e requisitos essenciais

O report da Puppet trouxe um insight interessante sobre o baixo investimento das organizações em Product Management para times de plataforma. Uma das razões, é que a maioria dos produtos de plataforma de engenharia iniciam com alguns objetivos muito óbvios ou com direcionamentos top-down, o que torna mais fácil fazer a entrega dos recursos mínimos de uma plataforma de desenvolvimento, por exemplo. 

Entretanto, uma vez que a infraestrutura básica está pronta e funcionando de acordo com o esperado pela organização, os próximos passos para identificar e priorizar os próximos recursos de valor a serem construídos são problemas mais complexos. E é nesse estágio em que as skills de Product Management são cruciais.

PMs em times de plataforma precisam ter a capacidade de refinar as mais diversas solicitações de usuários, validar problemas e transformar tudo isso em itens acionáveis e soluções colaborativas com o time

Saber traduzir as demandas de negócio em reais itens de trabalho para o time de plataforma também é um desafio, pois na maioria dos casos as demandas ou metas chegam de formas muito abstratas como: “precisamos reduzir custos de contratação de ferramentas”, “precisamos reduzir o lead time dos times X, Y e Z”, “precisamos aumentar a eficiência da unidade de negócios XPTO“. Nesses casos, a PM vai precisar entender tanto sobre o domínio do negócio e recursos financeiros da organização, quanto sobre soluções de tecnologia que causem impacto real naquelas metas ou solucionem as demandas.

5. Profundo conhecimento de usuários internos

Um dos benefícios de trabalhar com produtos de plataforma internos é a proximidade que temos dos nossos usuários. Já falei sobre isso em outro texto, e hoje tenho uma percepção um pouco mais refinada sobre esse assunto. 

É fato que precisamos aproveitar essa vantagem de contato mais próximo com nossos colegas, que também são nossos usuários, para conhecê-los com profundidade, entender suas dores, necessidades, desejos, acompanhar suas tarefas do dia a dia de perto e entender como podemos otimizar suas atividades para promover eficiência e melhor performance através das nossas plataformas. As práticas de pairing e shadow são ótimas aliadas nesse contexto.

Mas um ponto muito importante é que podemos considerar esses usuários também como parceiros. Ou seja, pessoas que colaboram e contribuem ativamente para entendimento e resolução de problemas que são comuns à toda organização, com o objetivo final de entregar valor aos usuários externos (ou clientes finais).  O princípio de Inner Sourcing que citei na seção 3 é um aliado incrível quando falamos de colaboração e aproximação dos usuários.

Nesse texto, na seção “Mapeando e classificando stakeholders“, explico um pouquinho sobre como categorizamos as diferentes relações que temos com nossos usuários, stakeholders e parceiros internos. A forma de abordagem e alinhamento entre essas diferentes categorias pode mudar, mas o objetivo final precisa ser o mesmo: entender seu usuário com profundidade e nesse caso, como sempre, empatia é a palavra-chave.

6. Vontade de desafiar normas já estabelecidas

Essa é minha habilidade preferida. Revisar processos, encontrar gaps e pontos de dor, questionar, reavaliar e propor melhorias e muitas vezes desafiar normas, processos e padrões já estabelecidos na organização é algo que PMs de plataforma precisam realizar no dia a dia e isso não se limita a só “procurar problemas onde as coisas estão funcionando”. 

Muitas vezes para que suas entregas tenham sucesso e adoção, alguns processos terão que ser adaptados, melhorados e por vezes extintos. Plataformas de engenharia falam muito sobre eficiência e alta performance, e se o processo ou as regras atuais não entregam a eficiência que o mercado exige ou a alta-performance que o negócio deseja, isso precisa ser questionado, desafiado e eventualmente melhorado.

Diagnosticar cenários, validar com os envolvidos e propor mudanças de ownership compartilhada é um caminho interessante. No artigo mencionado, eu explico tudo isso em detalhes e compartilho um template para diagnóstico de processos que pode ser aplicado a diferentes contextos.

Entretanto, desafiar as normas já estabelecidas é uma tarefa mais complexa do que simplesmente diagnosticar problemas. Nesse sentido, comunicação efetiva e colaboração entre diferentes times voltam a ser essenciais. Entender sobre estratégias de adoção de produto também é fundamental. Na minha experiência, trabalhar com o conceito de “pilotos” tem sido uma estratégia interessante. Ou seja, quando precisamos reformular algum processo, incorporar uma nova ferramenta ou desafiar algumas regras – fazer um piloto com algum time de produto parceiro é o ideal, a partir desse experimento vamos colhendo feedbacks, melhorando a abordagem e aplicando em novos contextos.

Conclusão

É notável que a maioria das habilidades exigidas de Product Managers em contexto mais generalistas e produtos user-facing são facilmente aplicados ao contexto de plataforma, nesse texto procurei trazer algumas situações que vivo no meu dia a dia atuando em uma tribo de Internal Developer Platform.

Acredito que existem outras habilidades não citadas na pesquisa que também são muito importantes no contexto de produtos de plataformas, como a capacidade de priorização e negociação, capacidade de conectar a estratégia de tecnologia com os objetivos de negócio, conhecimento do mercado e habilidade de fazer benchmarking de tecnologia, entre outras e sem falar nas habilidades e conhecimento técnico. Mas isso é assunto para um próximo artigo. 

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