Multidisciplinaridade além do Design - Cursos PM3
Mah Piacesi

Mah Piacesi

9 minutos de leitura

Panorama do Mercado de Produto

Conectando profissionais de Produto, Design e Tecnologia de maneira estratégica

A rixa velada

Quando ouvi falar da PM3 Summit pela primeira vez pensei que fosse um evento voltado exclusivamente para Produto por conta desse sempre ter sido o foco natural da escola. Não que isso seja algo ruim, pelo contrário, mas por achar que o evento em particular acabaria sendo mais voltado pra esse mercado como um todo. Como não atuo diretamente com Produto, achava que poderia não aproveitar 100% do seu conteúdo de alguma forma. Aquele medo de investir em algo e acabar se sentindo um peixe fora d’água. Porém, ainda assim, me mantive interessada do mesmo jeito por já atuar como Product Designer e saber que mesmo na prática sendo áreas bem distintas, existe ali muita coisa em comum e muitos momentos onde acabamos por falar a mesma língua.

Não tem como negar que Design e Produto sempre andaram de mãos dadas mesmo que muita gente não queira dar o braço a torcer sobre isso em muitos momentos. Ambos precisam falar de métricas, pesquisa, teste, inovação, valor e, claro, experiência.

Sinto, inclusive, que sempre existiu uma rixa mínima velada na área entre designers e produteiros onde um parece instintivamente querer se destacar mais que o outro com a necessidade de ganhar mérito para si dentro da empresa e a cada um dos entregáveis. Algo como uma competição boba onde um quer se sentir mais importante que o outro em meras superficialidades. E para mim isso nunca fez lá muito sentido, sabe?

A equipe entregou uma feature nova. Vamos dar uma salva de palmas para a squad. E aí alguém pensa lá no fundo com aquele pensamento intrusivo não solicitado:

Mas no final o mérito vai pro time de Produto, Design ou Tecnologia?

Há quem diga que foi produto que esquematizou tudo, priorizou, vendeu e defendeu a ideia, alinhou e entregou. O designer pode alegar que trouxe mil hipóteses e um planejamento estratégico refinado, estudou diversos cenários e validou com as pessoas para chegar no melhor resultado possível, naquele que fosse mais satisfatório pro usuário final. E tem também a galera que, sem dúvida, vai jogar a bola pro desenvolvedor. Afinal, de que adianta pensar sem executar? O dev vai lá e implementa tudo o que foi definido, faz commit, refina, testa, entrega.

No mundo do ego inflado talvez essa discussão até faça sentido. E muita gente pensa sim dessa forma mesmo que não vá admitir enquanto lê esse artigo. E está tudo bem. Mas vamos combinar? Nenhum deles entregaria com a mesma eficiência se as outras partes não estivessem ali firmes e fortes fazendo o seu trabalho de sempre. No fundo não é sobre quem entrega primeiro ou quem executa melhor. E sim, sobre como um suporta o outro e faz um trabalho com tanta qualidade que ajuda o outro a chegar nesse mesmo nível sem grande esforço.

A (re)conexão entre áreas

Quando alguém de Produto chega com uma tarefa nova onde tudo já está muito bem clarificado, com um briefing completo e cheio de evidências relevantes, isso já facilita demais o trabalho do designer sortudo que vai pegar e começar essa demanda. Não tem coisa pior do que pegar uma task vazia que não tem nem mesmo descrição, nada elaborado além de um desejo de uma pessoa específica. “TASK XPT-1 — Mudar a home”. Por quê? Para que? Qual é a finalidade? Qual o contexto? E por que mudar algo que já funciona? Só por que alguém achou que fazia sentido? O trabalho do designer não deveria ser sobre atender desejos, mas sim sobre validar o que melhor faz sentido a nível de experiência para o usuário.

Da mesma forma, quando um designer entrega um protótipo bem elaborado, com regras de negócio bem justificadas, uma pesquisa e um embasamento bem trabalhados, além de um handoff detalhado com as devidas especificações técnicas, isso significa dizer também que lá na frente o desenvolvedor não vai ter que se esforçar muito para entender o que precisa ser implementado. Sem desalinhamentos, má interpretação, telefone sem fio, sem joguinhos. Apenas um manual sintetizado com todas as principais instruções de como dar vida para aquele projeto.

E por fim, quando o desenvolvedor finaliza uma demanda dando visibilidade de tudo o que foi feito nos mínimos detalhes junto de possíveis barreiras técnicas, testa e valida com a equipe para garantir que tudo está consistente conforme o que foi pré-definido e ainda entrega um código limpo, que outros desenvolvedores não tenham dúvidas do que foi feito ali para continuar o trabalho com qualidade e boa performance, tudo isso por sua vez são ações que já ajudam não só os desenvolvedores, os designers e também os produteiros. Todos trabalhando juntos [ara chegar em um objetivo em comum.

E é com esse pensamento e impressão que fiquei quando ouvi os primeiros minutos de introdução da PM3 Summit. Um evento que trouxe exatamente essa abordagem que sempre passou muito claro pela minha cabeça. Falar de Design e Produto e demais áreas da Tecnologia como uma coisa só. Sem segregar, sem colocar em rótulos. É sobre conectar e reconectar todos esses pontos.

Tive então a oportunidade de receber o convite para participar desse evento e só tenho a agradecer pela quantidade de conhecimento que consegui adquirir em tão pouco tempo. Foram nada mais nada menos do que 9h de conteúdos selecionados em um único sábado com grandes convidados do mercado falando sobre Design e Produto com momentos de Coffee Break, Happy Hour e networking entre todos os participantes e painelistas.

Indo além

Um dos painéis que acredito que entregou muito bem essa visão que conecta múltiplas áreas foi o papo sobre Conexões Estratégicas: Dados, Tech, Design e Produtos. Achei muito interessante porque foi uma roda com pessoas de diferentes funções dentro das áreas e rolou um debate muito rico sobre como essas conexões se alinham entre si nesse tipo de questões estratégicas do dia a dia trabalhando em squads de Produto.

Um dos pontos interessantes abordados foi sobre ser essencial trabalhar o foco na comunicação e manter um alinhamento constante entre as áreas e squads para que seja possível agir quando necessário. Empresas mais amadurecidas em seus processos vão se esforçar para que isso seja implementado de fato. É um pouco sobre não ter medo de “falar com o coleguinha do lado”, fazendo com que os funcionários pratiquem uma cultura onde todos tem voz para opinar e agir quando necessário. Algo que nem sempre vemos por aí na prática.

Se só uma área fala por si e se acha autossuficiente, as coisas provavelmente não vão evoluir quanto poderiam. Quando você soma pessoas que pensam em todas as etapas da jornada, mapeando pontos de melhoria em comum e distribuindo para as pessoas certas que terão todo o know-how para trabalhar nessas questões, só aí você está tendo a visão do todo. Algo que uma única pessoa e/ou área agindo sozinha não consegue atingir.

No painel falam ainda sobre como somos contratados para resolver problemas. Isso vale para qualquer área, principalmente Tecnologia. Um designer, por exemplo, não é contratado apenas para mexer no Figma. Essa pessoa precisa conectar inúmeras hipóteses com possíveis soluções até chegar em um protótipo final na ferramenta. Logo, o Figma é apenas um meio para se chegar nesse grande objetivo. Da mesma forma, um designer não deveria consumir apenas conteúdos e eventos de Design. Ao trabalhar com Produto é preciso entender o contexto em que se está inserido e começar a consumir conteúdos interligados que rodeiam esse tema principal além da sua própria função.

Sabendo disso, se esse designer trabalha em um banco digital ele precisa começar a saber mais sobre finanças, começar a se interessar mais sobre como se desenrolam esses processos por trás e até onde consegue perceber seu funcionamento como um todo. Mesmo que não cheguem em um nível muito técnico por falta de conhecimento de diferentes especializações, mas ainda assim bem informado o suficiente para poder opinar sobre e conseguir conectar e acionar outras pessoas quando necessário.

Logo, um bom profissional hoje em dia age muito mais com a perspectiva sobre saber lidar com tribos e contextos diferentes do seu e possui interesse de explorar temáticas e visões diferentes da sua.

Quanto maior for seu repositório de referências e vivências sem os seus próprios vieses da profissão, maior será a sua capacidade de fazer esse tipo de conexão estratégica entre as áreas dentro da empresa.

Assim, é interessante perceber que o nosso próximo passo de evolução na carreira é muito voltado para essa tendência de ser um profissional multidisciplinar, não enxergando apenas o seu próprio espaço e limitações, mas vendo um pouco além a fim de tomar decisões mais estratégicas envolvendo outros profissionais no caminho, sejam eles quem for. Conectando para somar e trazer ainda mais valor em todas as futuras definições de Negócios.

Agradeço ao pessoal da PM3 pelo convite de participar desse evento esclarecedor e recomendo fortemente que participem de mais momentos assim onde é proposto debatermos sobre temas que não foquem apenas na própria área de atuação e saiam da bolha para que seja possível chegar nesse nível de alinhamento com pessoas de outras áreas em comum.