Por Dan Printes
Comecei minha vida profissional em 1996, trabalhando como menor aprendiz em uma empresa que desenvolvia vitrines virtuais para lojas da 25 de março (!!!). Foi lá que aprendi HTML e que decidi que eu iria trabalhar com internet. Desde então, eu passei por todas as etapas da transformação no mundo da tecnologia até agora: como programador web – full stack! – vivi o mundo waterfall até meados de 2006; depois já indo pra gestão de tecnologia, ajudei a implementar agile em diversas empresas e ainda fui project manager que fazia cronogramas no Project e cartas de projeto detalhadas durante a transição agile onde o delivery era ágil mas o que realmente importava era seguir o plano do projeto e cumprir o cronograma.
Depois acabei trabalhando com marketing performance e finalmente conheci a área de Produto, já em 2013. De lá pra cá, aprendi muito sobre esse mundo – que une tudo o que vivi em minha carreira – de construção de produtos digitais com foco no usuário de forma lean, culminando com a minha chegada a liderança de produto em 2017.
Então, para pessoas como eu, que estão a bastante tempo no mercado atuando na área de Produto e Tecnologia, é tanto legal quanto preocupante ver como a demanda por esse tipo de profissional – os Product Managers – está aumentando nas empresas.
Um reflexo disso é a concorrência por esses profissionais, que está cada vez mais forte: o salário de um product manager , que antes ficavam entre 10 e 18 mil reais, agora estão chegando facilmente acima de 20 mil reais para profissionais relativamente novos na função e, inclusive, já tenho tido notícia de Product Managers recebendo ofertas de Signing Bônus para trocar de emprego, coisa que antes só ocorria em níveis executivos.
Eu, pessoalmente, acho ótimo que o trabalho de bons profissionais seja cada vez mais reconhecido e que essas pessoas que estão entrando em posições estratégicas gerem o máximo de resultado possível para que as empresas tenham retorno sobre seu investimento e assim termos cada vez mais sucesso no mercado de tech brasileiro – que está pegando fogo!
Mas, por outro lado, eu fico preocupado com o futuro desse cenário, pois, sei que não existem disponíveis no mercado empresas maduras o suficiente para realmente serem Customer Driven Companies e muito menos profissionais capacitados para os desafios que estão aparecendo por aí. É muito difícil encontrar e contratar um bom PM. Esse é um dos principais motivos para a Cursos PM3 ter sido fundada a pouco mais de 1 ano atrás por mim, Marcell e Bruno.
Então, resolvi escrever esse artigo para deixar algumas coisas em pratos limpos e servir de guia do que esperar para você que quer entrar no mundo de Produto – seja um profissional ou mesmo uma empresa – dado todo o hype que estamos passando.
1 – Product Manager e Product Owner não são a mesma coisa.
Product Owner é um papel tático exercido por alguém em um time ágil – que provavelmente usa scrum. Já o Product Manager é uma profissão, um cargo, que é responsável por todo o ciclo de vida de um produto – digital ou não. Eles não são sinônimos.
O Product Owner tem uma função mais operacional, trabalhando junto ao time de tecnologia. Ele será o responsável por fazer a ponte entre a área de negócios e os desenvolvedores, entendendo a demanda dos stakeholder e possivelmente fazendo dinâmicas para definir a priorização do backlog e do roadmap. Ele até influencia a tomada de decisão mas não é quem tem a palavra final. Qualquer pessoa, com um bom conhecimento sobre um determinado assunto e que faça um curso de CSPO, pode atuar com sucesso como um P.O.
Já o Product Manager é o responsável de fato pelo produto. Ele é um gerente que tem a autonomia e o buy-in necessários para tomar decisões e que vai de fato ter a palavra final sobre a direção que o time de tecnologia deve seguir, co-criando soluções de forma iterativa que vão gerar real valor para a empresa por meio da geração de valor para seus usuários
2 – O Product Manager não trabalha como um garçom entre os stakeholders e o time de tecnologia
Se sua empresa precisa de uma pessoa para resolver conflitos de prioridade entre executivos ou traduzir ideias de stakeholders para que o time de tecnologia possa implementar, criando especificações detalhadas para todos os corner cases – casos especiais ou exceções a regra em português – e pensando em todos os critérios de aceite para as histórias de usuário e acompanhando a execução junto ao time de desenvolvimento, você está, novamente a procura de um Product Owner e não de um Product Manager.
3 – O Product Manager não é o novo Gerente de Projetos
Apesar de todo Product Manager ter que saber um pouco de gerenciamento de projetos, não é o seu foco criar cronogramas detalhados sobre o andamento de um projeto ou mesmo cobrar o time de desenvolvimento que cumpra as datas acordadas (ou mesmo estimadas) para que o software entre no ar. Quanto a parte da entrega – o famoso product delivery – inclusive, tem mais a ver com o trabalho de um Agile Coach – que ajuda o time a melhorar continuamente sua performance – do que com o de Product Manager ou mesmo um PO – que sim, podem ajudar dando uma direção clara e escrevendo boas histórias e prótotipos, mas que, novamente, não tem o foco em fazer o time entregar mais ou no prazo (aprenda mais sobre isso com o curso de Product Discovery da PM3).
Ouso dizer até que se o seu PM estiver mais preocupado com a entrega da próxima feature do que em descobrir a melhor solução para o problema de negócios que ele deveria estar comprometido, ele está mais para um PO – que foca mais na solução – do que para um PM que deveria estar preocupado em resolver de fato o problema e não cair na build trap.
4 – Ter um Product Manager na empresa significa que ele participa da estratégia e que ele tem autonomia de decisão
Caso a sua empresa esteja procurando uma pessoa que será responsável por evoluir um produto – ou partes de um, no caso de existirem vários times atuando – passando por todo seu ciclo de vida, indo da procura do market e economic fit, passando pela fase de growth até chegar, eventualmente ao declínio e sendo sua responsabilidade conectar a estratégia do seu produto ao da empresa aí sim você estará procurando um Product Manager.
Não me entenda mal: ele também cuidará da execução junto aos desenvolvedores – onde ele não só pode mas como deve fazer o papel de PO caso o squad rode Scrum – mas ele também deverá estar muito ocupado em entender seu usuário de forma a resolver necessidades reais deles, de forma a gerar valor para a empresa. Então, quanto mais autonomia essa pessoa tiver para tomar decisões sobre o produto que ela gerencia, mais ela será um Product Manager de fato.
5 – O Product Manager lidera por influência e é cobrado por resultados
Apesar de ser uma posição estratégica, com bastante autonomia, bem remunerada e, por isso mesmo, muito desejada, atuar como Product Manager não é para qualquer um.
Então como saber se você já está apto a ser um Product Manager?
Bem, se você consegue usar dados – tanto qualitativos quanto quantitativos – para embasar suas decisões, conhece muito do mercado no qual o seu produto atua e, principalmente, está em constante contato com os usuários seja por meio de entrevistas, pesquisas ou testes de usabilidade – sempre em parceria com seu UX ou Product Design – e é alguém que busca por grande responsabilidade e autonomia, e que não tem medo – nem preguiça – de dar aquela milha extra no final de semana para poder finalizar aquela análise que não deu tempo durante a semana, priorizar seu backlog ou mesmo terminar de detalhar suas users stories além, é claro, de ser cobrado constantemente pelo impacto que seu produto mesmo sem ser líder funcional das pessoas que trabalham com você em seu time… bem aí você está pronto para atuar como um verdadeiro product manager. Product Management is Hard, como já diz o grande Marty Cagan.
6 – Não temos assim tantas vagas de Product Manager no mercado.
Por conta de todos esses pontos que descrevi acima existem realmente poucas empresas no Brasil que tem uma cultura de produto instaurada e maturidade para serem Customer Driven de verdade. Dá pra se contar nos dedos das mãos.
Mas então por que temos tantas vagas de Product Manager disponíveis no mercado? Na verdade não temos. Em sua grande maioria são posições que não tem autonomia real de decisão e que acabam apenas fazendo o heavy lifting de ser o porta voz dos stakeholders e executivos perante o time de tecnologia, traduzindo o que eles querem que seja desenvolvido para os designers e engenheiros produzirem, manterem o roadmap (e o cronograma!) atualizados e poderem ser cobrados dos resultados que essas mudanças (não) está dando. E o mais triste de tudo é que tem muito profissional de produto que se diz um PM mas que nunca foi um na vida por falta de oportunidade por conta do ambiente que ele vive pelas empresas por qual passou.. E o pior de tudo: eles nem sabem disso!
7 – Perguntas para se fazer durante um processo seletivo para Product Manager:
Se você, profissional de produto, ao participar de um processo seletivo, ficar na dúvida se aquela posição é de fato para ser um Product Manager sugiro questionar ao seu futuro gestor as seguintes perguntas:
- Quem define o roadmap do produto? Ele é orientado a features ou a resultados?
- Como é feita a priorização das sprints/user stories?
- Posso dizer “não” para algo que eu não concorde, tendo evidências que não gera valor para meu usuário final?
- O que é mais importante? Colocar no ar 5 nova features para o produto ou bater a meta do quarter com apenas uma delas?
Qualquer resposta que demonstre que você, como possível futuro PM daquele produto, não será a pessoa responsável por definir os pontos acima mostra que a empresa não é uma Customer Driven Company e que eles não querem na verdade um PM, mas sim um garçom dos executivos.
8 – Não temos PMs suficientes no mercado
Mesmo que todas essas vagas fossem para Product Managers de fato, não teríamos pessoas aptas no mercado para assumir esse papel. O mercado demora anos para formar um PM. Não é algo que se aprende a fazer bem com 2 ou 3 anos de experiência, mas sim com pelo menos 5 anos no mercado de tech e com resultados comprovados.
Digo isso por experiência própria: já fazem 3 anos que atuo na liderança na área de produto de empresas que tem o mindset correto e não é nada fácil contratar. As vagas não fecham em menos de 6 meses. Pessoas que vão bem na entrevista não se saem bem no case. As que vão bem podem não ter fit cultural ou ter um salário realmente elevado por tudo que já falamos. É realmente muito difícil contratar um bom PM.
9 – É possível sim suprir essa demanda.
Uma coisa que me deixa feliz é que mesmo com toda essa falta de maturidade que ainda existe, tanto nas empresas quanto nos profissionais de produto, é que o mercado está vendo valor nessa posição pois os primeiros unicórnios brasileiros que estão nascendo são realmente Customer Driven Companies – com uma ou outra exceção.
Como a demanda existe e pelo jeito veio para ficar, nada mais justo ajudar as pessoas a se formarem melhores Product Managers. É aí que entram alguns cursos presenciais – para pessoas que não tiveram tanto contato ainda com o mundo tech agile – e o da PM3 – para pessoas que ou já atuam como PMs ou que estão em funções/áreas próximas (como os POs) e que querem ser Product Managers de fato.
10 – Temos que lutar contra o status quo
E, já que, de uma forma ou de outra, teremos pessoas atuando como Product Managers dentro dessas empresas ainda pouco maduras, elas têm o dever e a responsabilidade de cobrar autonomia para o seu papel, de lutar contra o status quo de que os stakeholders conhecem as necessidades de seus usuários – mesmo sem nunca terem feito uma entrevista ou visto eles usando o produto na vida real – e de que a próxima feature – sem discovery e entregue o mais rápido possível – vai resolver todos os problemas (aprenda mais sobre isso com o curso de Product Discovery da PM3).
Nós, de produto, temos que ser agentes da inovação dentro dessas corporações, para que tenhamos cada vez mais empresas pensando em pró do seu cliente e entendendo que a melhor forma de gerar resultados é por meio da criação de produtos e features que realmente resolvam problemas reais.
Somente dessa forma é que conseguiremos educar o segmento tech sobre o que é de fato Product Management e teremos aí sim um mercado maduro tanto para profissionais quanto para empresas!
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