O que avaliar antes de entrar em uma empresa? - Cursos PM3
Bruno Coutinho

Bruno Coutinho

9 minutos de leitura

Mudar de empresa nunca é fácil. Fica muito mais difícil quando não se tem padrões para avaliar o que é uma boa oportunidade de crescimento ou não. Neste texto, Bruno Coutinho conta a sua experiência profissional e te dá dicas para melhor avaliar pontos interessantes, de acordo com o momento da empresa.

Depois de alguns anos de experiência no mercado, eu comecei a refletir nos aprendizados que tive durante a minha carreira, em cada uma das empresas na qual tive a oportunidade de trabalhar e me desenvolver. Teve big techs (Catho e OLX Group Europa), editora de apostilas para concurso de médio porte (Novas Concursos),  start-up (Vérios Investimentos) e scale-up, como é o caso da PM3.

É claro que, ao longo da vida, a gente tem diferentes estímulos e necessidades. Teve um momento em que eu precisava apenas sobreviver – a.k.a “qualquer coisa que pague as contas serve” – e outros que o lema era “fazer bastante dinheiro trabalhando horas sem fim.” Tudo tem seu tempo, situação e estímulos.

Mas hoje, com o conhecimento e pequena sabedoria que tenho, eu já consigo avaliar exatamente o que cada empresa, dependendo do seu estágio, poderia me trazer como crescimento profissional. Por isso, resolvi detalhar abaixo os pontos que acho chave a empresa ter, para ter um “Bruno” tocando o terror.

Start-ups (pré-PMF)

Se eu tivesse sido convidado hoje para trabalhar em uma solução que ainda não está validada, eu olharia essencialmente para os fundadores

Muito mais do que diplomas pomposos, de grandes universidades do Brasil ou fora, eu quero saber se estas pessoas são especialistas no mercado que estão atuando, já botaram muito a mão na massa, seja nas empresas que trabalharam ou nos outros empreendimentos que já tiveram. Poder de execução aqui é crucial.

Avalie também a origem destes fundadores. Jamais trabalharia para almofadinhas (patrícios e patrícias), que conhecem o empreendedorismo apenas por uma ótica teórica. Quero trabalhar com gente que goste de gente e que tenha trabalhando muito mais servindo do que sendo servido.

  • O negócio tem que ser escalável em sua essência
  • O negócio tem que ser rentável no médio e longo prazo
  • O time tem que ser lean e multi funcional (cada um na sua área de expertise, mas sem tempo ruim para fazer acontecer)
  • Fundadores com base na indústria de tecnologia
  • Fundadores que já tenham empreendido antes (e que tenham falhado, para que tenham aprendido com alguns erros)
  • Fundadores que executem de verdade no dia a dia
  • Cultura de trabalho remota e comunicação assíncrona
  • Não pode ter recebido funding, a não ser que tenha sido extremamente necessário (e quero entender o porquê)

Start-ups (pós PMF)

O negócio atravessou o famoso “abismo”. Já com uma solução validada e que de fato resolva uma dor de usuário, se eu fosse entrar em uma empresa neste estágio, eu olharia obviamente para todas as questões acima, e adicionaria também um olhar crítico para o time (a galera que está tocando tem que ser muito foda! – já trabalhei com povo “corpo mole” e foi um pesadelo).

Além do time, eu também tentaria entender claramente a visão do negócio pros próximos 2 anos no mínimo e as entregas esperadas para os próximos 12 meses. Tem que ter o mínimo de planejamento para entender como este negócio vai crescer – porque eu não quero afundar com uma estratégia fadada ao fracasso!

Abaixo os meus pontos:

  • Visão e missão clara
  • Time forte, enxuto e que esteja apaixonado pelo problema
  • Barra alta na contratação (meu processo tem que ter tido entrevistas, testes e case)
  • Sentir o impacto que está sendo gerado de forma bem clara
  • Decisões orientadas a dados, usando as melhores práticas de descoberta de soluções (Product Discovery real!)
  • Roadmap com uma estimativa de valor gerado nos próximos 12 meses (e as métricas que serão impactadas)
  • Nada de roadmaps ou cultura orientada a funcionalidades

Scale-up

Aqui, a expectativa é que o negócio esteja rentável e olhando para mercados adjacentes para ampliar as fontes de receita ou portfólio de produtos. A solução está validada, a marca já começa a se tornar conhecida no mercado e há uma base relativamente grande de fãs e evangelizadores dela (este é o momento que estamos na PM3, enquanto escrevo este texto). 

Neste estágio, eu já começo a ver as questões do dia a dia na empresa como algo que vai solidificar os valores do negócio e que tipo de ambição os fundadores têm para ele. Ao me juntar a uma empresa neste momento, eu avaliaria todos os pontos anteriores e adicionaria:

  • Os valores da empresa (devem estar alinhados com os meus)
  • Enxergar claramente o impacto do meu trabalho, diariamente no negócio
  • A empresa deve aplicar as melhores práticas na gestão de produto (não apenas Product Discovery, mas priorização, gestão de stakeholders, testes a/b etc.)
  • Liberdade e autonomia para experimentar novas ideias e iniciativas 
  • Fundadores presentes no dia-a-dia, sendo embaixadores da marca na comunidade e ajudando na execução (já deu pra se ligar que “empreendedor de palco” não tem vez comigo!)
  • Planejamento anual com metas claras
  • Algum framework para mensuração de resultados (NSM, OKRs etc.)

Sério. Se em uma entrevista eu descubro que a empresa não tem estes pontos, eu não me dou ao trabalho de continuar no processo. Aqui a cultura da empresa tem que ser colaborativa e de liberdade para experimentar. Bem provável que a existência de uma gestão tóxica “top-down” não tenha o mínimo espaço. 

Scaler

Aqui o foguete já não tem mesmo como dar ré, a não ser que péssimas escolhas de negócio sejam feitas no futuro. Mas vamos levar em consideração que o negócio continua crescendo a todo vapor e contratando a um ritmo responsável, que não ponha em risco a saúde do negócio e entrosamento dos times.

Neste estágio, já se espera que a empresa consiga olhar bastante para o time e a partir daqui criar formas de maior interação entre as áreas e desenvolvimento de iniciativas para reter os primeiros talentos da empresa e continuar contratando com a barra alta.

Pontos que valorizaria aqui:

  • C-Level experiente, que faça as perguntas certas, desenvolva estratégias sólidas e dê suporte pros times tocarem o negócio
  • Pessoas de middle management com forte perfil técnico, em um mix perfeito de estratégico e operacional (tem que ajudar os times, se eles precisarem)
  • Excelente ambiente de trabalho e benefícios claros pros colaboradores – genuína preocupação com o bem estar das pessoas
  • Nível baixíssimo de burocracia, para que as coisas andem sem que muitas pessoas precisam estar envolvidas para tomar uma decisão

Sustainable Corporate

O sucesso deste negócio é inquestionável. A empresa, em teoria, já recebeu alguns aportes para se tornar uma “grande da tecnologia” (Series A, B ou C). Ela já é reconhecida como uma das grandes, ou senão a referência no segmento, de forma mundial – mesmo que não esteja atuando em outros países. Este negócio já entendeu como jogar e jogo e cresce a ritmo agora mais lento, sendo necessária otimização diária para ajustar recursos.

Dependendo do quão grande está o negócio, aqui você não terá mais contato com os fundadores, onde haverá a figura de CEO (ou country manager) responsável por liderar os colaboradores. Espere para trabalhar em muitas otimizações de recursos e possibilidades de adquirir concorrentes melhores ou outras empresas que tenham sinergia com a sua visão, de pelo menos 2-3 anos.

Esta foi a minha última experiência profissional. Tive orgulhosamente a oportunidade de ter trabalhado no OLX Group na Europa. Antes de aceitar a posição, eu tentei avaliar no meu processo os pontos abaixo:

  • O histórico do meu gestor direto e gestor do meu gestor
  • O time que terei contato no dia a dia tem um bom entrosamento
  • Salário e benefícios estão em linha com o mercado?
  • Nível de burocracia mínimo para fazer acontecer
  • Olhar estratégico claro para mercados adjacentes e possibilidade de adquirir outros players (M&A forte)
  • Ter acesso às melhores ferramentas de mensuração e otimização
  • Ambiente de trabalho de altíssimo nível (pessoas, instalações, perks etc.)

Resumo final

E aí, conseguiu ter uma ideia de quais fatores avaliar, de acordo com o momento da empresa? Já tinha estes pontos antes na cabeça? Muito mais importante do que trabalhar em um negócio legal, ou “empresa da moda”, ter um alinhamento claro com as coisas em que você acredita e a empresa faz total sentido para um relacionamento de longo prazo.

Este texto foi totalmente baseado na minha experiência empírica e não há qualquer estudo mais profundo sobre estes pontos. Espero que tenha te ajudado a refletir. 🙂

Até a próxima! 

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