Este artigo foi publicado originalmente aqui.
Eu sei, esse deve ser o milésimo texto com título sensacionalista que tenta resumir uma profissão em algo simples como “a habilidade mais importante” que você encontra.
Eu já li textos, ouvi podcasts, li relatórios e fiz cursos que tentam desvendar qual o jeito mais fácil de “chegar lá” atuando como uma pessoa de Produto. Algumas coisas como “liderança”, “análise de dados”, “conhecimento técnico”, “lidar com stakeholders” aparecem com frequência e essas coisas de fato fazem uma diferença gigantesca na hora de atuar no dia a dia.
Mas dificilmente vejo uma coisa que considero mais básica que tudo isso que é: conheça as regras de negócio em profundidade. Vou dar os meus centavos e compartilhar um pouco da minha experiência, que talvez sirva pra quem tá começando na área ou em uma empresa nova.
Eu sempre parto do ponto que você só vai poder exercer todas as outras habilidades que são exigidas de uma pessoa de Produto se você conhecer as regras de negócio em profundidade. Quando digo “regras de negócio”, sei que pode ser algo bem amplo, mas costumo focar em alguns pontos principais, sobre os quais vou falar melhor a seguir.
Problema
Qual é o problema que estamos resolvendo? Qual é o problema que queremos resolver?
Nem sempre isso tá muito claro de primeira, mas essa pergunta pode te ajudar a colocar todos na mesma página. Como pessoa de Produto e lidando com vários times de diferentes áreas, é importante sempre focar no objetivo, por mais simples ou complexo que ele seja. A partir disso, você consegue desdobrar o necessário em relação aos dados, experiência, metas, etc.
Público
Quem é o público deste produto? Quem é o público alvo deste produto?
Não adianta fazer pesquisa qualitativa e analisar dados para pensar em novas funcionalidades se você não tiver um ponto de partida. Talvez a resposta sobre essa pergunta ainda esteja obscura, dependendo do momento do produto que você tá trabalhando. Às vezes o público alvo não é o mesmo que está usando o seu produto. Investigue. Questione. Manter isso como base, junto ao problema que você quer resolver, pode ajudar a dar o próximo passo, idealizar e priorizar.
Regulamentação
Existe alguma regulamentação pra este produto?
Estude a regulamentação do mercado que o seu produto esta inserido!!!
Essa me pega sempre. Trabalhei com produtos financeiros e conhecer as regras do Banco Central do Brasil (BACEN), por exemplo, me ajudaram muito a entender os requisitos e planejar entregas.
Não adianta ir pra dinâmica idealizar, desenhar tela, verificar viabilidade técnica e só depois validar com o jurídico se você tá dentro das regras. Entender o que pode ou não ser feito pode agilizar muito o levantamento de hipóteses depois. E mais importante que isso: deixe todos na mesma página sobre essas regras. Compartilhe com Design e time de Desenvolvimento o que pode ou não ser feito.
Metas
Quais são as metas? Como elas foram elaboradas? Como meu produto se encaixa nisso?
De novo, eu sei que isso depende muito do momento do produto, da empresa, do time que você esta, etc. Mas é seu papel, como pessoa de Produto, seguir a grana. Quando digo seguir a grana, é entender no detalhe como as metas financeiras foram planejadas e quais as variáveis consideradas.
Como o seu produto mexe o ponteiro desta meta? Partindo do macro para o micro pode ajudar a definir os KPIs do seu produto. Isso pode te ajudar também a engajar o time nas entregas, mostrando como o trabalho contribui para o todo.
Empresa
Quais sistemas este produto utiliza dentro da empresa? Quem são os responsáveis?
Aqui, vou falar de “sistemas” de uma forma geral, mas a ideia é entender de onde vem a informação que seu produto usa, para onde ela vai e que consequências isso tem.
Para onde vão os dados que o seu produto gera? Quais são as tabelas? Quando um usuário passa pelo seu fluxo, isso gera ações em outros locais? É disparada alguma comunicação para o usuário quando ele completa uma ação? E quem é responsável por cada pedaço? A ideia é entender quem precisa estar envolvido em possíveis mudanças e como mudanças tocadas por outros times podem ter impacto no seu fluxo.
Resultados inesperados
Lembre-se dos caminhos infelizes!
É bem comum na hora de planejar uma nova feature ou testar uma hipótese a gente se empolgar com o resultado feliz. Mas planeje pra estar errado também. Não to dizendo que é possível cobrir todos os bugs, todos os caminhos não felizes, mas se pergunte sempre “e se isso não funcionar?” Isso ajuda a escrever cenários de teste e a construir soluções mais robustas. Os caminhos não felizes fazem parte das regras de negócio.
Curiosidade
Por fim, alimente sua curiosidade e não canse de aprender.
Às vezes você não vai ter respostas prontas para essas perguntas, mas isso significa que há espaço para contribuir e construir. Os contextos podem ser diferentes e cada empresa tem sua organização interna que pode dificultar ou facilitar a vida de uma pessoa de Produto. Acredito que conhecer as regras de negócio em profundidade é um bom ponto de partida pra analisar dados, tocar dinâmicas de idealização, planejar OKRs, planejar lançamentos e atingir objetivos.
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