Viés cognitivo: o que é e como usá-lo para melhores decisões
Jéssica Moraes

Jéssica Moraes

9 minutos de leitura

Nosso cérebro é uma máquina complexa. Agora, imagine a pressão sobre líderes que precisam tomar decisões acertadas constantemente. Nesse processo de síntese, o viés cognitivo pode ser tanto aliado quanto inimigo.

Embora os vieses cognitivos ajudem a simplificar a tomada de decisões, eles podem levar a distorções na percepção e no julgamento. Na prática, podem acabar influenciando negativamente na hora de escolher algo ou se posicionar.

Neste artigo, você entenderá como compreendê-los profundamente para agir de forma mais racional e consciente no ambiente corporativo. Boa leitura!

O que é viés cognitivo?

Em 1970, os psicólogos israelenses Amos Tversky e Daniel Kahneman aplicaram o conceito de viés cognitivo pela primeira vez. Trata-se de atalhos mentais, conscientes ou inconscientes, que nos permitem processar informações de forma mais eficiente no dia a dia. 

Esses vieses podem ser causados por fatores como emoções, pressões sociais ou outros tipos de atalhos mentais. No entanto, é importante ter cuidado.

Se por um lado o viés cognitivo é útil para tomadas de decisões mais rápidas, por outro, pode atrapalhar nossa capacidade de pensar de forma crítica e objetiva. Isso acaba prejudicando na hora de fazer julgamentos, interpretações e se posicionar diante de uma situação ou decisão. 

Para os líderes, o impacto é ainda maior, pois muitas decisões têm consequências em longo prazo. Um erro hoje pode gerar um efeito cascata incalculável. 

Mas o viés cognitivo também torna-se um aliado. Afinal, funciona como um processo automático formulado pelo cérebro para simplificar a síntese e a interpretação de informações.

Quais são os principais tipos de vieses cognitivos?

Agora que você conhece o conceito e a importância dos vieses cognitivos, especialmente para um líder, é fundamental entender que existem inúmeros tipos. Dentre os mais comuns, estão os seguintes.

Viés de confirmação

A tendência de buscar e interpretar informações que validem nossas crenças pré-existentes é um dos vieses mais frequentes. Quando nos deparamos com diferentes pontos de vista e opiniões, é mais fácil valorizar o que condiz com nossas crenças e mais difícil lidar com o que nos contradiz.

Viés de ancoragem

A primeira informação recebida sobre um assunto tem um impacto desproporcional em nossos julgamentos subsequentes. Esse fenômeno, conhecido como viés de ancoragem, faz com que nos apeguemos à primeira informação como referência, mesmo que seja arbitrária ou irrelevante.

Viés de disponibilidade

A facilidade com que lembramos de exemplos influencia nossa percepção de frequência ou probabilidade de eventos.  Se lembramos facilmente de casos em que algo deu errado, tendemos a superestimar a probabilidade de que ocorra novamente.

Viés de representatividade

Classificamos pessoas ou eventos com base em como se encaixam em categorias ou estereótipos preconcebidos. Esse viés nos leva a ignorar informações relevantes, mas que não se encaixam em nossas expectativas.

Efeito de Dunning-Kruger

Pessoas com pouca habilidade em uma determinada área tendem a superestimar suas próprias capacidades. Por outro lado, indivíduos altamente competentes podem subestimar suas habilidades, acreditando que as tarefas são mais fáceis para todos.

Viés de otimismo/pessimismo

Sermos otimistas ou pessimistas interfere sobre nossa perspectiva futura. Pessoas otimistas passam a superestimar resultados positivos, enquanto pessimistas antecipam resultados negativos.

Viés de negatividade

Já reparou o quanto estamos condicionados a dar mais peso a informações negativas do que positivas? Esse viés atua de forma ruim sobre nossas decisões e bem-estar. 

Não é necessário “transformar-se em Pollyana”, mas cautela e equilíbrio são fundamentais. Compreender esses vieses, sem dúvida, é o primeiro passo para tomar decisões mais racionais e conscientes. 

Principais impactos do viés cognitivo na tomada de decisões

Os vieses cognitivos, como mencionamos, estão relacionados às nossas decisões em diversos contextos. Aqui estão alguns exemplos no âmbito pessoal e profissional, em escolhas do dia a dia e no Marketing. 

Pessoal

Nos relacionamentos, há dois comportamentos comuns. 

Primeiro: idealizar parceiros, interpretando suas ações de forma a confirmar nossas expectativas. 

Segundo: focar excessivamente em seus defeitos, o que pode levar a brigas, cobranças excessivas e desconfianças.

Profissional

Líderes tomam decisões estratégicas importantes para a empresa, como lançar um produto, contratar ou demitir colaboradores e investir em novas tecnologias. Se influenciados pelo viés do otimismo, podem levantar estimativas irreais sobre o sucesso das escolhas.

Decisões cotidianas

Ao comprar um produto, frequentemente, nos baseamos na marca. Por exemplo, a Coca-Cola pode ser escolhida mesmo que exista um produto similar com melhor custo-benefício (viés de representatividade).

Impacto em áreas específicas

No marketing, as empresas utilizam os vieses cognitivos para influenciar as decisões de compra dos consumidores. O viés de escassez (a ideia de que um produto é limitado) pode levar as pessoas a comprarem por impulso.

Percebe como tudo exige cautela, atenção e parcimônia. Antes de agir, pare por alguns instantes para refletir. O impulso pode ser uma armadilha.

Além disso, mantenha a mente aberta a outras opiniões e sugestões, caso a dúvida persista. Mas como reconhecer o viés cognitivo para aplicar esse conselho de forma eficaz?

Como reconhecer e mitigar vieses cognitivos

Já que os vieses cognitivos podem ter efeitos tanto positivos quanto negativos, saber reconhecê-los e mitigar os riscos é uma forma inteligente de usá-los a seu favor.

O primeiro passo para dominar os vieses é estar ciente de que eles existem. Não adianta negar, todos temos pontos de melhoria. Reconhecê-los é o caminho para o aperfeiçoamento e a superação.

Outra dica é diversificar suas fontes de informação. Sempre que possível, mantenha contato com outras perspectivas e opiniões divergentes da sua. No ambiente de trabalho, isso é ainda mais importante. Afinal, há diversas equipes com diferentes pontos de vista.

Evite tomar uma decisão sem considerar todos os pontos levantados e as evidências disponíveis. Observe atentamente antes de tomar uma posição final e veja o que faz mais sentido para a situação específica.

Além disso, não se esqueça de focar nos fatos e dados. Não confie apenas em informações que confirmam suas crenças ou vieses preexistentes. 

Se não tiver segurança total da sua escolha, decisão ou opinião, peça conselhos e busque conhecimentos adicionais. Isso ajudará a compreender melhor o problema e a chegar a uma conclusão bem fundamentada. 

Um conselho: analise de forma crítica todos os aspectos da sua vida, inclusive na hora de consumir notícias. A mídia também exerce um forte poder de influência. Então, saiba separar, questionar e adotar esse comportamento como lema.

Falando em dados, você sabe o quanto eles são valiosos na hora de defender uma sugestão ou investimento? A PM3 sabe disso! 

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Vieses Cognitivos: o que diz a ciência 

Agora vamos à ciência. Do ponto de vista científico, o conceito de viés cognitivo está relacionado à numeracia

Diz respeito à capacidade limitada de uma pessoa realizar e compreender operações aritméticas simples. Além da dificuldade para racionalizar ordens de grandeza maiores.

Amos Tversky e Daniel Kahneman, em parceria com outros colegas, demonstraram como os julgamentos e decisões humanas frequentemente se desviam da teoria da escolha racional, baseando-se em heurísticas.

Essas heurísticas são conjuntos de regras simplificadas que o cérebro utiliza, muitas vezes, levando a erros sistemáticos. Mais tarde, essas descobertas foram formalizadas no “Programa de Pesquisa de Heurísticas e Vieses”.

Com o tempo, o estudo dos vieses cognitivos transcendeu a psicologia acadêmica e passou a influenciar outras áreas, como medicina e ciência política. Quem diria que teria inferência até na Inteligência Artificial! 

Viés Cognitivo e Inteligência Artificial: qual a correlação? 

Para finalizar, vamos explorar o universo da tecnologia. Há algum tempo, talvez fosse inimaginável que capacidades humanas pudessem se relacionar com a Inteligência Artificial (IA).

A implementação de algoritmos de IA pode amplificar vieses cognitivos existentes ou até introduzir novos. Funciona assim: os algoritmos de IA aprendem diariamente com os dados que recebem e os próprios usuários contribuem para o seu aperfeiçoamento.

Assim, se esses dados contiverem vieses, o próprio algoritmo irá reproduzi-los em suas decisões e recomendações. 

Por exemplo, se um algoritmo de marketing for treinado com dados enviesados sobre a jornada do cliente, ele pode perpetuar esses conceitos ao elaborar relatórios e direcionar estratégias.

Os vieses cognitivos tomaram proporções muito maiores do que seus idealizadores poderiam imaginar. Trouxeram contribuições significativas para indivíduos, sociedades, empresas, instituições de ensino, entre outros.

Mas lembre-se: além de reconhecer seus próprios vieses, complemente suas análises com dados. Suas decisões serão mais claras e firmes. Para isso, conte com a PM3!

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